quarta-feira, 6 de maio de 2009

Mergulho em mim mesmo


Fiz de conta que não era comigo, quando me tiraram do meu mundo, me viraram de cabeça pra baixo e cortaram meu umbigo...
Dizem que na primeira vez que o ar invade os pulmões, arde pra caramba. Como eu não tinha mesmo consciência do que era aquilo tudo, abri o berreiro.
De lá para cá, foi entrar no samba...
Várias tentativas de me adaptar: eu aventureiro num mundo onde me sinto estrangeiro...
O planalto central deu lugar ao mar...
No asfalto habitual germinou o cio...
Evolução ancestral, busca no meu próprio esmo...
Eu sou a mais autêntica imitação de mim mesmo...
A criança descobriu um mundo em volta de si...
De repente, me dei conta, tinha gente aqui que se importava comigo, que cuidava de mim...
Pai, Mãe, Tios, Avós, Irmãos...
Cidadãos do meu universo, coração controverso, consangüínea humanidade...
E assim fui crescendo, tateando pelo caos, variando bons e maus momentos...
Afinal, viver não é um experimento?
Depois descobri a amizade.
Caramba, agradeço a qualidade dos amigos que consegui fazer!
Descobri o amor, a companheira de viagem, soberana de meu peito...
Ela que me deu a passagem para o trem da paternidade, com um simples: ”sim, aceito!”
De criatura passei a ser também criador...
Caramba, Deus, não é que, à sua imagem e semelhança, a gente também faz milagre pra educar os nossos filhos?
E que amor é esse, que ultrapassa os limites, desce do muro, pega um grafite e picha nos olhos da gente este tanto que a gente sente e não sabe nem como definir...
Descobri a fé, me apaixonei por Cristo. “O Cara”.
Mito, sonho, homem, filho, mensagem, vivência, coerência, Deus!
Não satisfeito em dividir a história humana, dividiu também a minha:
Quem era mesmo eu A.C.?
Mas, assim como Ele, não aceito os vendilhões do templo...
Sou católico, mas luto, questiono, brigo pelo exemplo que minha igreja de agora, infelizmente, não dá! Mas eu tô lá, batalhando o “bom combate”, de vez em quando indo a nocaute, rês desgarrada, separada pro abate...
Tem nada não: “o Cara” nos ensinou a ressurreição! Esta que acontece diariamente, insistentemente, e nos coloca na contra-mão!
Descobri a idéia, perdi a razão muitas vezes, quando entrei em contradição. Mas o que seríamos nós sem os erros? “Depois deste desterro”, algum fruto será bendito, com toda convicção!
Descobri os livros, a poesia, a música, a arte, o dom, o talento, a linguagem, a mensagem, o sentimento e a emoção das palavras que brotam de um coração desatento, mas sempre disposto a ser bom...
Descobri os mistérios, os segredos, os medos, os batistérios, os enredos e os cemitérios...
Me deparei com a saudade, com a dor, com a decepção, com a inveja, com a ganância, com o egoísmo, com a cegueira que faz o homem desprezar a beleza da cor e se afundar na secura do racismo... Gente que faz estágio de inferno, no inverno de suas vidas...
Descobri o espelho, os cabelos brancos, o ser perecível que sou...
Quarenta anos se foram...
Do alto da minha pequenez, contemplo o templo em que habita minha alma, onde repousam meus sonhos, onde transitam meus versos, onde passeiam meus valores...
E agradeço mais este dia!
Quem de nós pode dizer qual é o amanhã que nos fará apenas uma lembrança?

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