quinta-feira, 7 de maio de 2009

Salvador


Uma Cidade que é tão plural
não pode ser cantada no singular...
Por isso, neste dia que é seu,
peço licença pra te chamar
Salvadores...
Tú que és tantas e te revelas
nos mantras de um relevo desigual,
que és alta e baixa, profana e santa,
preta, branca, índia, mestiça,
tu que és tão desigual...
E ao mesmo tempo tão igual....
Tú que nos atiças e agigantas,
provocando-nos a conquistar
o mundo em teu nome,
pela musica, pela escrita,
pela arte, pela dança,
pela parte mais amada
de especiarias tão suas...
Tu que és ladeiras e ruas,
que és prédios modernos
e ruínas cruas,
que és praças, casarios,
que és oceano e rios...
Tu que és tão intensa,
tão verdadeira,
tão imensa e tão pobre,
despojadamente nobre...
Permita que nos sobre
um pouco deste seu doce tempero
para falar por inteiro sobre
este seu dia...
Tu que és tão plena em alegria,
tão cheia de vida e de morte
tão cheia de fracos e de fortes,
deixa-me chamar Salvadores,
estes que são teus amores
por se entenderem teus filhos...
Deixa-me chamá-los, cidade mãe do país,
por que são teus filhos que tentam te salvar todo dia
do poder efêmero dos homens que acham que te dirigem...
Mas é tua origem
que te resgata diariamente,
quando teus filhos assumem voluntariamente
o papel de guardiões de teu jeito espontâneo e livre...

São estes anônimos protetores
que te sustentam e te nutrem,
com o viço desta receita única...
São eles que te revestem com uma túnica,
rendada numa tal sinfonia,
que permite harmonizar
harpas e atabaques, jóias e badulaques,
batas, batinas e fraques,
em total sintonia...
São estes teus filhos que
explodem em forma de poesia,
na mágica mania de ser ou
de se sentir soteropolitano,
ganhando o mundo
com este dengo baiano....
Deixa eu te chamar Salvadores,
por que és muitas...
És carnaval e és procissão,
és descanso e és trabalho,
és fitinha no braço,
aperto de mão,
sorriso no rosto
e intenção de braço...
És miscigenada oração!
És amor, és sexo,
és algo plenamente desconexo,
entre o que és, de fato,
como te enxergam no retrato
e tudo o que poderia ser...
Permita-me então, cidade plural,
voltar-me, numa oração, para seu caráter singular...
Permita-me dizer-te que não tens par,
e dirigindo-me ao teu inspirador,
deixa-me agradecer a Nosso Senhor
por conhecer Salvador!

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