sábado, 23 de maio de 2009

Um Camelo em Copacabana



Depois de um bom tempo, voltei a escutar "Copacabana", de Marcelo Camelo, ex Los Hermanos, música do CD "SOU" de sua autoria, apresentada a mim por minha afilhada Ninha.
Sem dúvida uma inspiração que nos remete a tempos melhores do que os que vivemos.
Na terra do carnaval e do axé, muitas vezes me sinto como um camelo em Copacabana. Um tanto desconfortável, experimentando um deslocamento natural para um Brasiliense que carrega como herança musical uma salada com direito a Tom, Vinícius, Dick Farney, João, Gilberto, Caetano, Guilherme Arantes, Gonzaguinha, os mineiros todos, além de uma forte influencia externa dos Beatles, Dire Straits, Credence Clearwater Revival, Supertramp, Vangelis, entre outros.
Mas aí você certamente vai me perguntar o que isso tudo tem a ver com o Marcelo e sua Copacabana. Pois é, sabe que tem? Desde a primeira vez que ouvi esta viagem musical do Camelo, uma palavra não saiu de minha mente: reserva...
A música Copacabana carrega em si uma nostalgia, um encanto, seja por seu ritmo de marchinha, seja por sua letra, seja pelo formato carinhoso que dela se abstrai, mas é algo tão perceptível, que nos faz pensar em nossas reservas...
Nada contra o carnaval atual, muito menos contra o Axé. Poucos setores da nossa música se profissionalizaram tanto e tão rápido como este. Tanto que este jeito de ser, de dançar, de pular e de agir que só a Bahia tem, acabou virando franquia, exportado a outros estados e nações, globalizando definitivamente essa folia.
Mas, mesmo reconhecendo tudo isso e sendo casado com uma foliã inveterada, continuo a me não compreender como é que a maioria absoluta de uma população apaixonada pelo reino de Momo, precisa se embriagar ou se drogar para brincar o "Carnaval de uma semana" de nossa cidade.
Volta à minha cabeça a imagem do camelo. Sua corcova, sinônimo de reserva de água,
para enfrentar os dias e noites de um deserto implacável...
E penso em nossos foliões. Onde estão suas reservas de alegria, de animação, de naturalidade?
Onde estão suas reservas de espontaneidade, de entrega e de irmandade, quando transformam as ruas de Salvador em depósitos de violência, falta de educação e higiene?
Ouvir esta música de Camelo é pensar em como o conceito de diversão foi se transformando ao longo do tempo.Ouvi-lo cantando sobre o bom papo de seus “velhinhos” nos faz pensar que quase não vemos mais idosos no nosso carnaval.
Sem nenhum saudosismo, não é preciso (e nem possível) voltar ao tempo em que bastavam uns bancos amarrados aos postes, em plena Av. Sete, para garantir um “camarote familiar”, para quem só quisesse assistir de graça a passagem dos blocos. Não, isso seria querer demais. Mas, quem sabe, um pouco mais de respeito ao direito do outro se divertir? Alguns milhares de litros de urina a menos nos becos? Algumas centenas de foliões sóbrios a mais? Algumas dezenas de policiais um pouco mais educados e menos truculentos? Será que é pedir muito? Sonhar demais?
É, sou um camelo mesmo. Não em Copacabana, mas perdido entre as barracas espalhadas em pleno Farol da Barra, entre os camarotes de Ondina e do Campo Grande. Um camelo a mais no meio da multidão. Sem nenhuma esperança de que alguém pare para perceber minha estranheza. Sei que vão achar que é somente fantasia...
Olha aí, descobriram minha reserva...Fantasia...
Sem estresse. Entre trios e manadas de pessoas no cio, sigo pedindo que não me levem a mal, sou apenas um careta que pede passagem, um camelo em seu deserto, perto de um carnaval que não encanta mais quem anda cansado, sedento de paz!

Um comentário:

  1. Legal isso!
    Da última vez que saí em um bloco me senti tangido. Me senti gado.
    Mas como diz Ramalho, povo marcado, povo feliz.

    Valeu, man!
    Sucesso na sua ilha de idéias. Aportarei aqui sempre.

    Chicó

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