Tudo começou com Adão e Eva.
O paraíso perfeito, até caírem em tentação.
A cobra, o fruto proibido, a vergonha, a expulsão!
A necessidade de estar vestido...
A impureza, a danação...
Beleza transformada em libido...
A natureza em putrefação...
A encarnação perdendo o sentido...
A semente da maçã, a podridão...
Milênios depois,
uma simples soneca,
e olha que nem foi a dois,
sob a sombra da macieira
pro pecado finalmente revelar
a gravidade!
Newton, pobre coitado,
atingido na cabeça,
embora se chamasse Isac,
não foi sacrificado,
foi endeusado, mitificado,
como um dos gênios
da humanidade...
Perdeu assim a humildade,
com a sua descoberta,
teve seu ego inflado,
e descobriu, assustado,
que a vaidade
também é um pecado!
A maçã da inteligência
num movimento antigravitacional
envolveu toda ciência
num ateísmo banal...
A encarnação perdendo a direção
A essência da maçã, a podridão...
Séculos mais tarde,
num consagrado conto de fadas,
novamente o fogo arde
numa maçã envenenada!
A inveja como pretexto,
uma fruta enfeitiçada,
no clássico contexto
da humanidade amaldiçoada!
Mais uma vez tentada
a provar de uma maçã
Branca de Neve perece
numa triste e fria manhã!
A encarnação ganhando a ficção!
O aroma da maçã, a podridão...
Décadas depois,
uma banda ganha o mundo,
o rock atrai, em segundos,
diversas gerações!
A maçã, sempre inventiva,
mostra-se bem criativa,
ao se fazer impostora,
disfarçada de gravadora...
E os jovens de Liverpool,
perdidos em AbbeyRoad,
sucumbem precocemente
ao pecado da arrogância!
E sem perceberem o risco
se perdem na ilusão do sucesso
e ousam uma infeliz declaração:
"somos mais populares que Cristo!"
O tempo tratou logo disto,
com sua separação...
O sonho acabou neste misto
de soberba e ambição...
A encarnação perdendo a afinação!
A casca da maçã, a podridão!
Anos depois,
a maçã não é mais real...
Inventou formas às cegas,
dentro de normas e regras
de um universo virtual!
Computadores e tablets,
Ipads, Ipods e Iphones
de um mundo só digital,
feito de codinomes!
O pecado surreal,
de uma maçã tão global,
num mundo morto de fome,
o consumismo fatal
de um tempo tão desigual
que está matando o homem...
A encarnação sem conexão!
O talo da maçã, a podridão...
Dias depois,
desta inevitável conclusão,
ouço uma canção,
numa ensolarada manhã,
que me reacende a esperança!
E olha que ela fala de maçãs...
"... Hoje me sinto mais forte
mais feliz, quem sabe
só levo a certeza
de que muito pouco sei
ou nada sei...
Conhecer as manhas
e as manhãs
O sabor das massas
e das maçãs...
É preciso Amor
pra poder pulsar
É preciso paz
pra poder sorrir
É preciso a chuva
para florir ...
Penso que cumprir a vida
seja simplesmente
compreender a marcha
e ir tocando em frente..."
(Almir Satter)
E embora tenha certeza de que há, definitivamente, algo de podre no reino das maçãs,
ainda resta o Amor pra um final mais feliz!
O Amor de Adão e Eva pela família, capaz da dádiva do perdão!
O Amor da mente pela razão, capaz de gigantescos passos de evolução!
O Amor do Príncipe por Branca de Neve, capaz da fé na ressurreição!
O Amor do sentimento pela expressão, capaz de criar a mais repetida canção!
O Amor da criatividade pela invenção, capaz de encurtar quilômetros na comunicação!
A maçã que me perdoe, mas o Amor sempre será a resposta, o antídoto, a inspiração!