Este lamentável episódio do último BA x VI trouxe à tona uma série de reflexões às quais devíamos nos debruçar para tentar, ao menos, evoluir na nossa maneira de nos relacionar com nossas expectativas, nossas paixões e as diferenças entre nós e os outros.
Num país como o nosso, bastante árido de exemplos dignificantes, a sucessão de enganos lamentáveis no último clássico expõe para o mundo a nossa carência absurda de valores e moral!
O futebol é uma vitrine de nossa cultura. E se já é um triste e consumado fato universal a associação histórica dos brasileiros com malandragem, desonestidade e deselegância por causa do futebol, o que dizer dos hábitos e costumes baianos depois deste último vexame?
As claras evidências da cultura do "farinha pouca meu pirão primeiro", do "camarão que dorme a onda leva", do "vou me dar bem não interessa em cima de qual otário", tão explícitas para quem vive a nossa rotina soteropolitana se cristalizaram na vergonhosa sequência imoral de selvageria e falta de esportividade protagonizada por dirigentes, técnicos, jogadores, profissionais de imprensa e torcidas de nossos principais times.
Absurdo pós absurdo assistimos, sem nenhuma surpresa, um degradante retrato de nossa sociedade. Desrespeito, violência, truculência, mentira, simulação, falta de ética, covardia, tudo num mesmo tabuleiro, para o delírio dos fanáticos de plantão!
Neste momento não podemos cair na cilada de, vestidos com as camisas de nossas paixões, sair apontando para este ou aquele como responsáveis por uma situação constrangedora. Todos são culpados, além de qualquer outra parcial exclamação!
Somos um povo que abusa de cometer erros, que tem gosto pela infração, que desrespeita as leis, as regras e os semelhantes. Esta é a verdade!
Existem exceções? Sim, graças a Deus! Mas são exceções! Ponto!
Sobre o clássico, não bastassem as imagens de violencia generalizada contradizendo todo um discurso vazio de um Ba x VI de paz e o abraço hipócrita de jogadores e técnicos antes do jogo, ainda houve o "gran finale" apoteótico pra enterrar de vez qualquer espécie de argumento atenuante!
Meus avós e pais me formaram, entre outros valores que me transmitiram, com um princípio básico de boa educação: "quem convida, dá banquete!"
Por isso vou começar falando sobre o anfitrião e a postura de alguns dos donos da casa.
Me mantive calado sobre o assunto pois, até que houvesse alguma prova sobre o ocorrido, todo mundo mereceria o direito ao benefício da dúvida. Depois do que ficou provado nas redes de TV em todo o país, através da leitura labial do Sr. Mancini, não havia mais como me calar.
Logo ele que, há poucos meses, já como técnico do Vitória, havia protagonizado uma situação com jornalistas paulistas, digna de aplauso do mais fanático torcedor do Bahia, ao exigir respeito e imparcialidade em relação aos clubes do nordeste, sendo ele mesmo do sudeste do Brasil.
Na época fui às redes sociais para elogiar a postura e a coragem de Mancini, técnico do principal rival do time que meu coração escolheu para torcer. Não fico feliz em relatar hoje a minha decepção com este mesmo senhor, justamente pelo contrário: sua conduta no episódio foi anti-ética, anti-desportiva, desonesta, mentirosa e covarde.
E estou apontando para ele, justamente por reconhecer sua capacidade, talento, experiência e liderança como treinador de futebol. De todos os envolvidos no episódio, a meu ver, Mancini foi quem mais errou! Errou ao deixar o profissionalismo de lado e "comer a pilha" da passionalidade de seus jogadores e dirigentes! Errou ao detonar a própria liderança ao induzir e expor um garoto ao desrespeito a todo o público.
Errou em não reconhecer o próprio erro, na coletiva de imprensa, tentando responsabilizar outras pessoas, negando de forma acovardada o que havia feito e, cinicamente, exortando o "caráter de pessoas de bem" como se a verdade pudesse mesmo não vir à tona.
Vergonhoso, lastimável, de uma falta de esportividade asquerosa mandar um jogador em início de carreira fazer o que fez. Mas Mancini não errou sozinho. A diretoria do Vitória estava envolvida, como foi demonstrado por várias reportagens sobre o assunto. Os jogadores também!
Embora tricolor, fico muito triste pelo Vitória, clube que aprendi a respeitar como rival, pela sua história centenária e suas recentes conquistas. Não fico nem um pouco feliz em ver um time da Bahia ridicularizado e exposto assim na imprensa do mundo inteiro.
Penso que se a instituição Esporte Clube Vitória não demitir sumariamente todos os envolvidos, incluindo diretor de futebol, técnico e jogadores envolvidos, manchará para sempre a sua própria reputação.
Deixando o anfitrião de lado e indo para a imprensa. Ouvir de alguns maus elementos do dito jornalismo esportivo que "se fossem Mancini fariam o mesmo porque ele deve satisfação e o emprego dele à torcida do Vitória e é melhor pro torcedor rubro-negro sair do estádio com este resultado
e perder os pontos no tribunal que ser goleado pelo Bahia é de uma pequenez, de uma falta de moral que beira a marginalidade! Que desserviço prestam ao futebol e à sociedade estes "profissionais" que só querem ver o circo pegar fogo por não terem profundidade para abordar aspectos muito mais importantes do meio esportivo.
Chego ao meu próprio time. Infeliz também! Muito infeliz! Os moleques do Bahia, que se comportaram como os "netos baianos" da vida, que tanto criticamos num passado próximo, não merecem sequer vestir a camisa tricolor.
Os "heróis" de um tempo bom, no qual o futebol era jogado com garra e arte, paixão e compromisso, estes se acabaram!Futebol é pra quem sabe jogar bola! Pra se ganhar no campo! Dancinha, gestos obscenos, provocações que não levam à nada só servem como pavio pra detonar bombas como esta! Dirigente do Bahia ficar pressionando árbitro também já deu! Jogador do banco de reservas, que nem no calor do jogo está, invadir o campo pra brigar beira o ridículo.
Em meu time os envolvidos não jogavam mais. Demissão por justa causa. Hoje em dia os salários são altos demais pra um jogador se dar ao luxo de ser suspenso por não sei quantos jogos por absoluta falta de controle emocional.
Ainda, sobre o episódio, já ouvi as mais diversas tentativas para justificar o injustificável. Os torcedores do Vitória chegaram a evocar os tempos de Osório e Maracajá, logo eles que vivem dizendo que quem vive de passado é museu. Os do Bahia falam que Neto Baiano e Junior Diabo Louro chegaram a pisar no escudo do Bahia na Fonte Nova e nem por isso ninguém os agrediu. Enquanto isso o futebol vai perdendo o seu encanto, os marginais são escalados em campo e quem perde são os que verdadeiramente amam o esporte.
Já fui muito mais apaixonado por futebol, pelo Bahia, pela Seleção Brasileira.Tudo isto tem desgastado muito minha paixão por este esporte. Eu que pratiquei durante anos e sempre respeitei as regras, a ponto de acusar quando o juiz marcava errado a meu favor, realmente estou desencantado!
Da valorização exagerada e desmedida de passes e salários de jogadores altamente comprometidos com seus próprios bolsos e sem paixão nenhum pelo clube e seleções em que atuam aos repetidos "espetáculos" de vandalismo e violência nas ruas e estádios em todo o mundo, cada vez mais associo as novas arenas às antigas, nas quais imperavam as disputas sanguinárias para deleite de um povo que se contentava apenas com pão e circo!
A gente precisa exigir mudanças éticas em todos os níveis!!! Partindo de nossa própria parcialidade e paixão que, nos casos mais fanáticos, nos fazem totalmente cegos a todo e qualquer absurdo. O futebol é uma vitrine da nossa cultura. E, sincera e honestamente, a cada dia que passa, perder meu tempo para assistir a este tipo de coisa tem perdido todo e qualquer sentido.
Finalmente chego à figura do juiz. Uma figura antes respeitada, admirada ou vilanizada por suas decisões... Notar que desta vez o juiz foi quase que ignorado, assim como fazemos com as leis e regras que nos regem... Passamos por cima dele, como fez o jogador de menos de 20 anos, ignorando sua autoridade, incentivado por seu técnico e por seu clube, sem nenhum temos quanto à punição ou à própria reputação...
Assistir a este último BA x VI foi como se olhar no espelho e detestar a imagem que se vê!
Todos perdemos! De goleada! E, o que é pior neste caso é que não adianta recorrer à justiça. Ela também está desacreditada!