sábado, 3 de fevereiro de 2018

Marina entre paredes - Um conto além das redes(Para Let Didier)




Entre paredes estava Marina.
Entregue a cada sentido, a moça confirmava:
-"As paredes têm ouvidos"...
E então se calava!
Mas Marina, entre as suas paredes, muitas vezes se esquecia e falava...
Sem censuras ou travas, Marina desabafava com o celular entre as mãos e assim urbanizava suas mazelas de então...
Engraçado é que Marina não se queixava...
Apenas abria o coração com suas impressões sobre tudo...
Calar e falar eram escudos!
Ou seriam exercícios e estudos desta matéria que é a Vida?
Ah, sua Vida querida...
É que Marina via tão além de tudo...
Sua imaginação a levava...mostrava caminhos que ela já adivinhava muito além das paredes...
Suas amigas a admiravam...Compreendiam a sua sede...
Entre as paredes...
Haviam também as janelas...
Dali Marina fitava olhares onde nunca havia estado, lugares que jamais havia sonhado...
Eram aquarelas que ela pintava em suas próprias paredes...
E ali ela as guardava...
Entre as paredes ficava Marina.
E dali ela gostava...
Era o ponto onde o mundo se mostrava a ela, sem nenhum risco...
Uma torre onde se enclausurava e protegia seus olhos de todo e qualquer cisco...
Suas janelas lhe ofereciam o mar, as nuvens, a lua!
Multidões de uma só pessoa na rua, que o seu olhar pescava sem anzol...
Nestas horas Marina se sentia sua...
E era grata às próprias paredes...
E reluzia como o sol!
Mas, às vezes, Marina fechava as cortinas...
A luz lhe incomodava, a paisagem lhe cansava, as pessoas sugavam sua energia...
Nestes dias não havia cristão que fizesse Marina mudar de opinião.
Simplesmente não socializava!
O pai conversava, a mãe dialogava, as amigas convidavam e Marina dava de ombros e se entrincheirava na sua masmorra habitual...
Um auto-exílio abissal!
Só que as paredes também lhe ofereciam um espelho...
Diante dele, Marina também se transformava, se sentia duas!
Sozinha, passava um batom vermelho, usava vestidos decotados, camisolas transparentes, sutiãs rendados, imitando aquela gente que passava por sua janela com o cabelo arrumado...
Marina então fantasiava...
Um Príncipe, um herói, um guardião lhe esperava?
Diante de si mesma, Marina se despia sem sentir-se nua!
E então, sem saber porque, ruborizava...
Nestes momentos, largava tudo, colocava suas roupas habituais, bem mais comportadas e novamente mergulhava na sua imensidão sem palavras...
Seu sorriso silenciava toda ilusão!
E a Vida passava sem pressa por suas razões e impressões!
E Marina não se deslumbrava...
Até um papel em branco chegar em suas mãos...
Só então Marina se libertava!
Em sua solidão muito bem acompanhada, Marina desenhava sua inspiração!
Se desconectava do resto e se conectava com suas paixões!
Embalada por suas canções favoritas, Marina se via, bonita, sem mais explicações...
Mais que em suas paredes, suas janelas, seu espelho, num simples pedaço de papel Marina se transfigurava!
E a felicidade brilhava, estampada, em sua satisfação!
E ali Deus habitava... Ali era local de oração!
Seu desenho comunicava a força de sua expressão!
Naqueles momentos sagrados, entre as paredes do seu coração, Marina enfim se encontrava com a própria criação!

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