sábado, 30 de abril de 2011

Casamento Real





Diante do trono
a majestade se revela
a servidão se dobra
a nobreza acende velas
o artista expõe suas obras
a igreja busca janelas
o mendigo suplica por sobras
o bufão quer mesmo é platéia
e a massa, aflita, só cobra
o pão, o circo e a fantasia plebéia
dos contos de fada e castelos
dos beijos nas sacadas e varandas
e a multidão embevecida junta os elos
e se acorrenta às suas próprias demandas
enquanto uns poucos convidados se divertem
nos abastados corredores reais
onde nada se vê mas tudo se sabe,
a turba vive os devaneios virtuais
e entre apertos, na rua, celebra o que lhes cabe
perpetua a coroa, sublimando os monarcas...
Esvaziam suas arcas...
E os herdeiros do trono,
diante do trono, apenas sorriem...
Brindam mais um espetáculo,
a criação de novos mitos...
Tudo programado, cronometrado,
como uma espécie de oráculo,
pompa e circunstância
tocam o infinito.
Está tudo sob controle
no reino saxão...
Uma nova paixão,
o mundo batendo palmas,
via satélite a pequena ilhazinha
mostra a força do leão
e, agora, mais do que nunca,
“Deus Salve também o neto da Rainha!”

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A arte




A arte
é um aparte do homem
à dureza da vida...
Uma parte de sua alma
resolvida a celebrar
a beleza!

Um descarte das feridas,
estandarte do sublime,
a arte é um tocar o divino
onde a humanidade
se redime...

Terra, guerras,
canhões, bombas, fuzis
viram pó no centro
de uma tela
capaz de provocar
num ser humano
uma lágrima feliz...

Entre pincéis, versos,
sons e entalhes,
o universo dos bons
pulsa em detalhes,
fiéis interpretações
extremamente pessoais
das questões
que cultuam a paz!

Ah, a arte!
Esta parte inspirada do ser...
Cores, amores,
dores, sofrimentos,
sentimentos, conflitos,
a arte é dos benditos
que entre todos os mandamentos
escolheram o mais bonito
amar o semelhante
como a si mesmo
e caminhar, a esmo,
no centro de um ser infinito!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Herança




Vi você nascer
no jardim de casa
do sofá da sala
uma janela
e o mundo à vista

Vi você crescer
rabiscando sonhos
dando forma ao tempo
de deixar
as próprias pistas

E agora a canção
é só pra dizer
pra você não parar
o velho violão
voltou pra fazer
você se revelar

Não há mais segredo
não há nenhum medo
é só querer fazer
e escrever
o que transbordar
de dentro...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Do outro lado dos meus sonhos


Do outro lado dos meus sonhos
ainda existe uma saída
há seres mais humanos
mais cuidadosos com a vida!

Do outro lado dos meus sonhos
ainda reside a esperança
mesmo diante da insanidade
de ver uma arma na mão de uma criança...

Eu tiro por mim
que atiro pra todos os lados
esperando que alguém diga sim
e escute o seu chamado

Mas já tem gente
que é imune às fantasias
já tem gente
resistente a uma poesia
capaz de chorar
com a novela do final da tarde
e dar risada
com uma criança fugindo da verdade...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Menestrel anda calado




O menestrel anda calado
escutando o tropel
dos cavalos alados
que não aceitaram
o carrossel...

O menestrel anda cismado
pensando a granel
em todos os chamados
que anda recebendo
do papel...

Todo amanhecer
exige um novo poema
que faça alguém esquecer
dos seus velhos problemas...

O menestrel anda fechado
fazendo balanço
de suas idéias
Entre violetas e Azaléias
continua doce e manso
mas o corcel mora ao lado...

domingo, 24 de abril de 2011

Depois de amanhã




Depois de amanhã
me fala sobre ontem
hoje ainda é cedo
e depois pode ser tarde!

Me fala sobre o tempo perdido
contando as estrelas de mãos dadas
daquele universo perseguido
portais, castelos e fadas...

Depois de amanhã
me fala sobre tempo
o quanto te fiz falta
ou te servi de exemplo...

Fala sobre seu cansaço
sua incapacidade de seguir
de dar sequer outro passo
sem conseguir me ferir!

Depois de amanhã
me conta sua histórias
o quanto foi em frente
seus fracassos e glórias...

Me fala sobre suas dores
sobre seu pé no chão
o preto e branco das cores
os espinhos da paixão...

Depois de amanhã
apenas me procura
pra oferecer uma maçã
ou se sentir mais segura...

Não me imponha nada além das mãos





Não me imponha nada além das mãos
espíritos livres não são mísseis teleguiados
eles têm sua própria direção
só precisam estar apaixonados...

Não, não me faça experimentar nenhuma imposição
mentes abertas não são cachorros domesticados
elas tem sua própria dimensão
e vão se expandindo de acordo com os chamados...

Não há mistério indecifrável
só o medo da descoberta
a escuridão é a luz mais vulnerável

Ninguém sabe exatamente a aposta certa
o risco é uma porta impenetrável
mas, por isso mesmo, sempre aberta...

sábado, 23 de abril de 2011

Medo de Embarcar




Tá sangrando no peito
uma saudade sem tréguas
distância de léguas
daquelas que não
tem muito jeito não

Tá singrando nos olhos
uma vontade de lágrimas
de um livro sem páginas
daqueles que não
tem mais folhas não

E de cima de um rochedo
no meio do mar
vejo um farol no seu olhar
revelando segredos
entre as ondas e as pedras
e o medo de embarcar...

O céu é lilás




O céu é lilás
entre as cinco e as seis
fico pensando em vocês
e nos momentos felizes
que a gente teve junto
e toda vez que isso acontece
eu tento não mudar de assunto
com meus próprios pensamentos
silencio os sentimentos
pra ficar em paz...

O céu é lilás
perto da Ave-Maria
lembro de tudo o que havia
dos acertos e deslizes
quando a gente estava junto
e toda vez faço uma prece
e de repente me pergunto
quais seriam os argumentos
pra voltar os bons momentos
e viver em paz...

O céu é lilás...
E eu não posso mais
olhar o sol se por
sem vocês por perto
é tudo tão deserto
sem aquele amor...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Rótulos




Tente não usar
mais rótulos
feche os olhos
ou retire os óculos
o que você precisa ver
está a um palmo do nariz
mas quem insiste mesmo
em não saber ser feliz?

Tente fazer sua parte
pensar positivo
também é uma arte...

Os caminhos vão se abrindo
pensar positivo
pode ser lindo!

Tente não causar
mais máculas
largue mão
e deixe as pílulas
o que você precisa ser
é só um pouco mais feliz
basta crer que tudo está mesmo
a um palmo do nariz...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ceia e Paixão




Trigo faz pão
mão faz amigo
uva faz vinho
irmão é abrigo

Me convida pra jantar
me oferece o alimento
coloca sentimento
numa espécie de altar

Ergue pro céu seu olhar
depois distribui as taças
entre os convidados

Procura quem perceba sua agonia
e vigie sem dormir
mas estão todos embriagados

Beijo faz estrago
afago é traição
só resta o fel para um trago
só resta sua paixão...

Sangue faz marca
marca seus passos no chão
todo mundo pulou da barca
só restam Maria e João!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Guarde uma oração no seu caderno




Guarde uma oração
no seu caderno
que algum dia de verão
pode parecer inverno
e os profetas de plantão
dirão que é coisa do inferno
nada mais na contramão
do que o novo se achar moderno...

Gira por aí
uma canção que faz chorar
mas tem quem só consiga rir
e há quem pode gargalhar
tudo é questão de se sentir
ou de saber interpretar
deixar a emoção fluir
ou simplesmente avacalhar...

Se a Terra gira
pra fazer acontecer
noite virar dia
pra o dia depois anoitecer
quem é você
pra se negar a se rever
gira no eixo de você
pra o tempo se contradizer...

Meu vôo pra lua





Meu vôo pra lua
tem direito a vagalumes
como batedores
e um guardrail de estrelas
pra garantir o destino

Meu vôo pra lua
é um sonho de menino
que o adulto transformou
em versos
pra explorar os mais incríveis
universos...

Meu vôo pra lua
não precisa de naves,
transforma mentes
em aves
de onde brotam
sementes de asas
mesmo nas mais rasas
a imaginação
ganha o mundo...

Meu vôo pra lua
não tem nada marcado
nem data, nem assento,
nem portão, nem finger,
nem desconto, nem aumento,
nem tarifa, nem lanche,
o único alimento
é o sonho
e pra que ele
não se desmanche
basta acionar o manche
do pensamento
olhar além do firmamento
e dizer a si mesmo:
esta é sua única chance!

domingo, 17 de abril de 2011

No papel




Livre no papel
feito uma nuvem pelo céu
desenho, forma, letra, som,
ao som do vento em semi-tom,
tiro do acorde um véu
por trás do véu
o seu batom...

Solto no papel
sou voluntário a ser um réu
entre poesias, textos, lápis e crayons
nús movimentos sob a luz neon
vivo do verso ao léu
no arranha-céu
vejo meu dom...

Cores douradas
refletem uma cidade
conturbada
revelam uma verdade
acobertada
despreparo
e abandono
na capital do verão
primavera,
inverno e outono
são pura contra-mão
para a indústria do beijo
um desejo basta
já é a razão...

Amor que não tem fim



Ergo um brinde
ao tempo inverso
tudo tão disperso
além de mim
cantando num jardim
só para as flores
sobre as dores
de um amor
que não tem fim...

Tomo um trago
do universo
tudo tão imerso
no seu sim
e a chuva no capim
sopra os favores
molha os atores
de um amor
que não tem fim...

Entre copos de leite
e rosas “champanhe”
peço que se deite
peço que me arranhe
quero que me espreite
quero que me apanhe
o coração
e mergulhe na paixão
de um amor
que não tem fim...

sábado, 16 de abril de 2011

Refazendo a estrada




Hora de fazer as malas
Repetir as velhas falas
Renovar o seu destino
E escutar os sinos...

Tempo de criar raízes
Enterrar as próprias crises
Refazer a sua estrada
E aprender os hinos...

Mas nada disso
estava em nossos planos
tudo isso foi
um lamentável engano
então me explica porque
não tenho coragem
de olhar pra você
numa boa
e perguntar
se você me perdoa...

Hora de cruzar os braços
De andar de pés descalços
Escutar a ladainha
E pensar que você já foi minha

Tempo de enfrentar o espelho
Esperar o sinal vermelho
Respeitar a faixa
Pra ver se algo se encaixa...

Tudo passa




A lenha arde na lareira
o corpo queima e incendeia
na sua teia, estou entregue
sem ter pra onde fugir

A alma queima na fogueira
o fogo teima e, em vão, vagueia
nas minhas veias, o sangue ferve
pulsando pra fluir

O coração se pergunta em segredo
sobre a paixão, as mãos juntas e os medos
depois que isso tudo passar
como vai ser, como vai ficar?

E o coração já não fala mais nada
hoje é verão, minha sala é a estrada
depois que isso tudo passar
como é que vai ficar?

Chuva, nuvem, gota, pingo
numa cinza manhã de domingo
transformam fogo em fumaça,
tudo passa, é, tudo passa...

Regue esta Canção



Pegue um violão
vire um menestrel
veja além do véu
esquente um coração

Toda poesia da vida
está ao alcance de nós
basta olhar além de si
que o sentimento ganha voz

Todo o mistério do ser
está bem defronte
é só olhar alguém dentro do olhar
pra descobrir um novo horizonte


Taça está na mão
basta estender pra se tocar
um brinde, uma ilusão
emoção pra se provar

Regue esta canção
um assovio no ar
que ela ganha a imensidão
e faz o amor se multiplicar

Matéria a ser revista





Li numa revista
uma matéria sobre o sol
algum estudo ou descoberta
de algum cientista por aí

Quando o sol apagar
e o planeta morrer
nova era glacial vai congelar
o tempo na terra

E a história ficará
manchada de sangue e guerra
a egoísta aventura de ser
sem ligar pro amanhã
só pensando em sobreviver
cada dia
cada manhã
tudo acaba um dia
a mania de ter a maçã
sem poder...

Depois de bilhões de anos
se um outro sol vier
pra derreter a dor
do homem e da mulher
quem sabe a raça humana
volte a valer a pena
volte a entrar em cena
além dos meus versos
no centro do universo...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Estou atrasado




Estou atrasado
o tempo não espera
a vida anda mais rápido
que a poesia
mas não importa
ainda que a passos lentos
vou transbordando sentimento
inspirado com as coisas do dia!

Estou atrasado
a vida não para
ponteiros correm
pra ser os primeiros
mas quem vence
certamente
são os segundos
eles dominam os mundos...

Estou atrasado
a história não liga
ela abriga quem
está lá na frente
tentando ser gente,
sem esquecer de quem
ficou pra trás
procurando a paz...

A lua vai embora
antes que o sol explique
o motivo do atraso
e naquele rio mais raso
afundo minhas angústias
enquanto a madrugada passa
com seu passo aberto
como uma caravana
perdida no deserto!

Em cada estação




Quero colher
de cada estação
um sentimento

um adeus com
sabor de vento
no inverno

um olhar com
o brilho do sol
no verão

na primavera
uma pétala curtindo
o vôo do abandono

e uma folha
dançando sobre a terra
no outono

Quero colher
de cada estação
uma lembrança

o sorriso de
uma criança
ao ver a neve

a saudade de
algum idoso
ao ver as flores

a juventude
curtindo o sol
que a vida é breve

e os galhos vazios
contando pros rios
das suas cores...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O fundo da prata




A prata
é escura
no rio
da cidade
E dura
é a verdade
de quem
passa frio
O rio
tem ondas
no meio
da tarde
mas a
liberdade
está por
um fio...

Bons ares que os levem
pra longe da praça
bons ares que os tragam
de volta pro Rio
Os pares que dançam
que o façam de graça
os lares que cansam
preencham o vazio...

Escravos e Senhores




Os escravos do tempo
querem quebrar os elos
das correntes que aprisionam
os seus sonhos paralelos

Os escravos da moeda
querem garantir o lucro
das tarifas que transformam
as pessoas em sepulcros

Mas um dia virá
de gente que vai pensar
mais coletivamente...
Um dia virá
de gente que vai ser
bem mais gente...

Os escravos da sorte
ganham no risco e na aventura
entre a vida e a morte
vão procurando a própria cura...

Os escravos da dor
querem apenas mais um dia
entre o ódio e o amor
vivem de pura nostalgia...

Mas um dia virá
de gente que vai pensar
mais coletivamente...
Um dia virá
de gente que vai ser
bem mais gente...

Então os senhores
serão escravos
e os bravos
serão covardes
escravos serão
senhores
e as noites
serão mais tardes...

La Hermana




Bons ares estes da Argentina.
Gastronomia excelente, exercício físico (andamos muito!), cultura, arte e uma companhia excelente. Como não gostar?
Mi Buenos Aires querida ganhou uma dimensão especial. Celebrar o aniversário de “mi hermana”, com direito aos joselitismos* de Paulito e às escapadas de “la vida real” de “Doritas” não teve preço. Foi sensacional. Do Puerto Madeiro, que “Bouzas” insistia em chamar Porto Madeira, aos caricaturais taxistas mal humorados. Das encantadoras e coloridas ruas do Caminito às escuras e impressionantes ondas do Rio de la Plata. Das exuberantes e acolhedoras praças da capital à inquieta e efervescente avenida Florida. Da estética quase perfeita dos dançarinos de Tango ao ineditismo do penteado do Maitre do Restaurante “Campo dei Fiori” (Comida Italiana Excelente). Da procura interminável pelo Chocolate Milka de “Leche com galettas” para Aninha à impagável comparação feita por um gaiatíssimo brasileño sobre acharmos um carregador de IPOD Shuffle para Let:
- “Es más fácil encontrar uña virgen !!!”
Sentenciou!
Tudo muito bom!
E sem agonia. Acreditem, Paulo não se estressou com horários e, no primeiro dia, até atrasou um pouco!!! Lógico que algumas coisas tradicionais como o sono de Dôra, as dores de cabeça de Lú e Paulo, as chatices deste que vos escreve não podiam faltar para completar o coquetel baiano-porteño na capital de los hermanos.
No CityTour um forte aplauso para Marcela, não aquela do navio, mas uma Argentina bem “na dela” que nos conduziu por um passeio de ônibus inesquecível pelos históricos monumentos, ruas e praças de Buenos Aires.
Saio desta experiência um pouco “cochechito”, mas ainda capacitado.
Na volta, muita emoção. Problemas no check-in no Aeropark, granizo e teto fechado em Guarulhos, avião subindo lento rumo a Salvador. O povo do avião meio verde, mas no todo o quesito aventura também foi fantástico.
A recepção com bolas no Aeroporto foi uma grande idéia. E o jantar pós chegada também. Uma família inteira unida e reunida para celebrar o aniversário de La Hermana. Ou La Madre, ou La Ija, ou La Mujer, ou La trambojone ou La Raburú, como diria Paulito, aquele que foi nascido e criado em Buenos...
Enfim, uma comemoração muito especial para uma pessoa muito especial.
Muito carinho, muito bem querer, muita alegria e recordações que estarão neste velho peito para sempre. Ou seria siempre?
Enfim, uno brinde à capital hermana pelo aniversário impecável de La hermana, mana Luciana...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sobre valores e reencontros




Quando chamas estão se apagando, nada como encontrar na origem delas mais combustível pra queimar.
Assim são nossos valores.
No caos de um mundo que, diariamente, se contrapõe a tudo que aprendemos como o "certo" a se fazer, é muito bom reencontrar pessoas que partilharam da mesma formação e perceber nelas redutos de resistência de uma época!
É como voltar no tempo e abraçar uma geração...
A imagem que me vem à cabeça é a de um fósforo que perto de extinguir a chama, retorna ao ponto inicial e ganha nova força.
Reencontrar amigos perdidos nos redemoinhos do tempo é uma viagem dentro de nós mesmos. É reencontrarmo-nos com a essência daquilo que somos hoje.
Entre piadas, abraços, sorrisos, lágrimas, papos sérios, lembranças, um elo maior reúne pessoas e as faz comungar velhos ideais.
Os ideais então rejuvenescem...
Valores ganham força...
Sonhos são resgatados...
O tempo, implacável, transforma fisicamente, mentalmente, psicologicamente, espiritualmente...
Mas não corrói a essência...
Não, não é só coleguismo, não é só amizade...
É maior.
É partilhar algo que só determinadas pessoas terão a capacidade de entender, de trocar, por terem vivido com você...
Os olhares permanecem os mesmos...
Eles conseguem desafiar o tempo para um belo duelo...
Nas características muito próprias de cada um, goles inebriantes de uma taça absurdamente rara em buquê e sabor: a da juventude...
Safra única.
Tempo bom.
Quando as uvas vão se tornando passas, antes de secarem elas percebem que, juntas, mesmo que "pisadas" pela vida, ainda podem produzir um belo vinho!
Um reencontro é uma espécie de mercado de sonhos. Cada um é uma bela prateleira, onde tradição e novidade estão expostas, ao gosto do freguês.
É pegar e se alimentar...
Um novo fôlego, uma nova força, um novo tempo...
No espelho da vida, reflexos de momentos inesquecíveis, mágicos, quase divinos...
No espelho da vida, uma incrível oportunidade de nos reconhecer tocando a felicidade e a liberdade plenas por alguns instantes...
E lá se vai mais um dia...
E eis que vem mais poesia...

TURMA D





Amigos da "D":
Um brinde a este encontro!
Embora não saibamos exatamente como e nem pra onde se dirigiu a correnteza de nossas vidas, há uma certeza: fazemos parte de um mesmo rio: o do bem querer. Depois de tanto tempo, bastou um gesto para transformar acenos em abraços, intenção em emoções, lembranças em realidade! Não somos mais a turma D, é verdade. A vida passou e aqueles jovens sonhadores se transformaram em homens e mulheres cheios de compromissos e responsabilidades. Realizamos muita coisa neste tempo. Sonhos de família, de filhos, de profissões, carreiras, sucesso, superação, crescimento, amadurecimento, enfim, sonhos de humanidade.Mas que dá uma saudade daquele tempo bom, acredito que ninguém possa negar...
Há cerca de 30 anos compartilhávamos uma formação focada em valores humanos e, no ímpeto de nossa juventude, sonhávamos em melhorar o mundo, enfrentando a tudo e a todos em nome de justiça, paz e liberdade. Alguns associavam isto à fé, à religiosidade. Outros ao próprio crescimento pessoal. Outros às mais diversas ideologias, fossem elas ligadas às questões sociais, políticas, familiares ou artísticas. O tempo passou. O mundo mudou. Plantamos sementes. Produzimos frutos. Nos desencontramos. E, de repente, aqui estamos nós, juntos de novo, celebrando algo maior do que as palavras, maior que o tempo, maior que os ideais. Celebramos o amor! Sim, o amor! O amor ágape. O mais sagrado e verdadeiro. Aquele que nada exige em troca, que simplesmente é. O amor que confia, que quer bem, que não se vangloria. O amor que, simplesmente, se alegra pelos que encontra e reencontra na estrada, sem juízo de valor, apenas por ter existido este tempo todo, num lugar muito especial dentro de cada um de nós!
Um brinde a este encontro. Às características muito particulares de cada um. Às virtudes e erros, às simpatias e antipatias, aos pactos e às rusgas de uma época que nos ajudou a evoluir como gente, até chegarmos aqui, agora, para viver este momento único. Não somos mais a turma D daquele tempo. Alguns quilos a mais, alguns cabelos a menos, aspectos físicos que denunciam experiências sofridas pela vida afora. Alguns mais sérios, outros mais gaiatos. Gente em um momento mais sofrido, gente numa fase mais feliz, aqui estamos reunidos, de novo, num ambiente fechado, agora como colegas de vida, aprendendo a viver! Experimentando, por exemplo, a lição de um reencontro como este. Olhar o presente com um olho no passado e ver tudo bem diferente daqueles belos dias do Vieira! Será que é mesmo tão diferente assim? Mesmo sem ter revisto a grande maioria de vocês, sou capaz de apostar que algumas coisas não mudaram. No fundo de cada olhar ainda continua um abraço amigo, um abrigo, um bem querer que existe mesmo sem se saber bem o porquê. No centro de cada coração, continuam muitos dos mesmos sonhos que compartilhávamos há tanto tempo. Dentro de cada mente, um campo de recordações companheiras e inseparáveis no percurso da grande aventura que é a vida.
Obrigado a cada um de vocês pela presença, pela manifestação espontânea de alegria, pelo sim, por se deslocar da sua zona atual de conforto e estar aqui, de peito aberto, sorriso no rosto, mãos estendidas para o doce exercício da amizade! Quanto ao tempo, agradeçamos também a ele por este momento. Pelas artimanhas que resultaram neste evento. Pela chama que reacendeu em cada um.
Pra finalizar e não transformar este manifesto em livro, um resgate: há muitos anos, no velho telheiro, no meio daquele barulho ensurdecedor de um fim de gincana, comemorando a vitória depois de vencermos juntos a prova de originalidade, levando um elefante para o Vieira (Vocês lembram? Nós fizemos o que parecia impossível), li numa faixa a seguinte pergunta: "Uma poesia pode transformar o mundo?" Estudante, repleto de sonhos e influências dos Beatles e dos escritores favoritos, na hora pensei comigo mesmo: - «Lógico!». Depois, durante a minha caminhada pessoal, pude ir experimentando aquela pergunta como uma verdade cada vez mais sólida. Àqueles de vocês, meus amigos, que ainda duvidam disso, ouso afirmar que podem acreditar, sem pestanejar. Hoje mesmo, nos encontrando aqui, estamos fazendo as duas coisas. Fazendo da vida poesia e transformando um pouco cada mundo particular! Somos "meninos no espelho" vendo a vida passar! Que este encontro seja um grande reencontro consigo mesmo pra cada um de vocês!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Nós cegos a nos cegar




Calcanhar de Aquiles
Funda de Davi
Taça de Alexandre
Força de Peri

Força de Sansão
Canto de sereia
Costela de Adão
Esfinge na areia

Os sinais estão lá fora
a nos chamar
mas ninguém
quer enxergar

O céu se manifestar
O mar se contradizer
Traga a água pro fundo
Para depois devolver

Os sinais estão lá fora
a revelar
que o pesadelo maior
somos nós
somos nós
nós
nós cegos
a nos cegar

O que a alegria nos traz




Luz
no meio do túnel
som
em pleno silêncio
sol
dispersando as nuvens
voz
no centro da solidão...

Uma canção invade o espaço
e dá um abraço
em quem já não esperava mais
sentir o gosto da paz

Um violão bate na porta
ele se importa
com quem já não entendia mais
o que a alegria nos traz

Céu
no fundo da Terra
Mar
dentro de você
Mão
pra dar uma força
Pão
pra dar de comer

sábado, 2 de abril de 2011

Dois amigos




Bom quando se vê alguém
que se volta para o bem
e passa por cima
dos erros do passado

Bom quando se vê a luz
invadindo de azuis
a escuridão que havia
ali do nosso lado...

E dois amigos
voltam a se tocar
olhos nos olhos
palavras que
fazem chorar...

E dois abrigos
voltam a se abraçar
paz sobre o tempo
tempo que pode
transformar

Bom quando se vê alguém
livre de todo peso
como um farol aceso
iluminando o mar

Bom quando se vê a luz
invadindo ondas azuis
a escuridão que havia
é coisa do passado...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A primeira poesia de Abril





Quem sabe uma mentira
traga em si
as verdades veladas
que não vi...

Segundos incontáveis
de um dia interminável
daquela luz no início da manhã
ou dos suspiros do final da tarde...

Quem sabe?

Quem sabe seja apenas
o primeiro dia de outro mês
que ,entre calendários e antenas,
em parabólica viagem se desfez...

Mundos impensáveis
tempo questionável
e aquela voz tão leve
no sussurro de uma noite breve...

Quem sabe?

Quem sabe quem abriu o mês
que palavras disse, que coisas fez?
Quem sabe quem virou freguês
dos brindes feitos ao tempo engarrafado?
De quem é a vez?
Quem sabe?

Quem sabe quem disparou a arma,
se era pistola ou fuzil...
Quem sabe se é destino ou karma,
quem sabe das folhas de abril...