As tempestades...
Seja na sede do deserto, seja no mistério do oceano, elas trazem sombras aos nossos corações...
Em ondas muito maiores do que esperamos, em dunas muito mais extensas do que imaginamos...
As tempestades chegam encobrindo a luz com suas pesadas nuvens de cinzas, ou de areia...
As tempestades, o temor em nossas veias...
A água, a tormenta, o trovão, a dúvida, o medo inundando o coração....
O pó, a rajada violenta, o sol e a garganta seca, a escuridão, a súbita sensação de ser um mero
brinquedo da Criação...
As tempestades...
A solidão, a palidez, a imensidão, a pequenez, a falta de fé em toda a sua nudez, no meio do oceano
bravio ou no deserto da nossa própria aridez... Quem dizem que sou? Quem dizem que são?
Atravessar as tempestades, confiando nos passos firmes do Amor sobre as águas, seguindo suas
pegadas, encontrando seus oásis, mergulhando na oração,
até emergir no Tabor e contemplar a Transfiguração do Senhor...
A gloriosa manifestação da Trindade profética para a Trindade humana, tão cética em sua contemplação...
Entre dois elementos, Moisés e o Maná no deserto, Elias e seu arrebatamento ao oceano azul do céu!
Moisés e seu cajado sobre o Mar Vermelho...Elias e seu manto dividindo as águas do jordão...Entre dois elementos, Terra e Água, deserto e oceano, uma explosão de luz: Jesus no centro da Criação! O Filho bem amado, no sagrado momento da revelação!
As tendas que Pedro imaginou erguer...
As tempestades da missão...no deserto das tentações, no mar das decepções...
E a longa travessia da salvação ainda a percorrer...
Com Jesus e Maria...
Do colo da noite da estrela guia ao colo de dor da Piedade sobre a matéria fria....
Sofrer, morrer e ressurgir...O Deserto da Paixão, o Oceano da Ressurreição...
O Sangue da Cruz, o Pão de Emaús...
Novamente Trindade a CAMINHO, transformando espinho em explicação...
As dobras marcadas no linho...As sobras da multiplicação...
No isolamento da angústia, a VERDADE da oração...
A vigília, o sono profundo, as maravilhas do mundo, a canção!
O andarilho, sozinho, tirando dos olhos os ciscos...
O homem isolado em seu ninho, com os olhos voltados para Francisco!
Pela televisão, a praça vazia...A chuva fria... O crucifixo e a pandemia!
A travessia....O passo trôpego... O desapego...O Pai Nosso, a Ave Maria!
A voz mais forte que o vento:
- "Coragem! Sou eu. Não tenham medo!”
O arroubo, o atrevimento...
- Deixa eu ir ao teu encontro!
A dúvida, o desassossego, e antes de afundar a súplica:
- Salva-me Senhor....
A mão estendida, a VIDA!
- Homem de pouca fé....
- Pedro, tu me amas?
Afirmação, exclamação!
-É claro que te amo!
Não!!!!!!!
A negação por três vezes...
A dor do arrependimento por meses...
O entendimento da missão!
No deserto da última travessia, a cruz de cabeça para baixo,
luz do mundo, pedra, Pedro, Francisco, e eu, onde me encaixo?
Tempestade, deserto, travessia...
Ao contemplar o irmão, a nova transfiguração!
Maravilha!
Vigília!
A Casa Comum em sintonia...
numa diferente Sexta-feira da paixão!