domingo, 19 de janeiro de 2020

Milagres diários 2



Saindo das Obras Sociais de Irmã Dulce, outro dia, me deparei com uma cena que, além de ter me trazido lembranças queridas, me trouxe uma certa apreensão.
Em frente ao Memorial de Santa Dulce dos Pobres, quatro senhorinhas em pé, do lado de fora, e com o celular na mão, pareciam aguardar alguma condução.
Imediatamente lembrei de minha sogra, Anna Maria Pereira e suas inseparáveis amigas, companheiras que, durante tantos anos, se irmanaram na nobre missão de serem voluntárias da OSID.
Atento ao fato de que, naquela região, pode ser um risco ficar com o celular assim, em exposição, no fim de tarde, olhei para os lados e percebi que um dos seguranças estava de olho nelas, talvez com a mesma preocupação que me afligia naquele momento.
Por alguns instantes fiquei a "vigiá-las", anonimamente, torcendo para que sua condução chegasse logo e elas fossem em paz para suas casas. Enquanto estava ali, percebi uma movimentação perto delas. Um ambulante estava procurando alguma coisa embaixo de seu carrinho de frutas. De repente, com o sorriso de quem havia encontrado o que procurava, virou-se na direção delas e lhes ofereceu quatro bancos de plástico para que aguardassem sua condução sentadas, com mais conforto e segurança, ainda mais perto do portão...
Não sei quem ficou mais feliz...Elas, o segurança, o ambulante ou eu.
Contemplar uma cena destas, em Salvador, é tão impensável, que beira mesmo a esfera dos milagres...
Depois de acomodá-las cuidadosamente, o ambulante retornou a seu carrinho e ali permaneceu como se nada houvesse acontecido...
Não me contive... Fui até ele e lhe disse o quanto surpreso e agradecido eu havia ficado com sua atitude...
Sorrindo, ele me disse que já está ali, naquele ponto, há quase 20 anos. E que desde o primeiro dia ele percebeu o cuidado e a atenção com os quais as pessoas da obra acolhiam aqueles que chegavam, independente de quem fossem... Me falou também que os próprios seguranças que, em outros lugares costumam ser grosseiros e mandões, ali se preocupavam em orientar e em ajudar. Me disse, então, que percebeu logo que se não seguisse o mesmo comportamento, provavelmente não ficaria ali por muito tempo.
Em seu anônimo serviço, aquele ambulante me mostrou, e à todos envolvidos no ocorrido, a força que possui um bom exemplo! Santa Dulce dos Pobres já está ausente fisicamente desde 1992 (já se vão 28 anos que Deus a chamou), mas o seu modelo de acolhimento caridoso e inclusivo permanece tão vivo que se espalha além das fronteiras de suas próprias obras.
A emoção e a gratidão tomaram conta de mim naquele momento e imediatamente elevei uma prece a Deus por presenciar algo tão incomum em nossos dias.
Não pude deixar de sinalizar ao segurança que aquele fato também era reflexo de seu próprio exemplo, reconhecendo seu trabalho e a forma como costumava conduzir as coisas com atenção, cuidado e caridade, próprios da instituição que representa.
Talvez seja exagero falar em milagre...
Mas num tempo e num lugar onde a cultura da "farinha pouca, meu pirão primeiro" costuma ser a ordem do dia, poder testemunhar algo tão fora do comum, inclusive para padrões de países desenvolvidos, no mínimo coloca esta cativante iniciativa no patamar do extraordinário!
Que Santa Dulce dos Pobres seja sempre motivo de inspiração e de imitação para o povo brasileiro!
Amém!

Lavagem do Bonfim nas OSID


Em frente ao Santuário de Dulce dos Pobres, a multidão vai passando...
Rumo à Colina Sagrada o povo vai a pé...
Pelo território santo, tantos elementos vão se misturando...
A alegria, a diversão, a tradição, a festa, a bebida, a devoção, a diversidade, a música, a gratidão, a fé...
Gente se encontrando, se benzendo ou simplesmente passando por ali, nesta quinta especial...
Romaria vira carnaval num ritual de respeito e troca, baianidade na medida exata do Bonfim...
Em frente à imagem da Santa, a reverência de seu povo conta uma história que não tem fim...
Histórias de amor e reconhecimento, de uma santidade construída além dos muros dos conventos...
Além das religiões ou das origens, pessoas de todas as crenças reenconrtam suas raízes, tocando o sagrado!
Do fundo de cada peito um coração que vem pedir uma graça ou apenas dizer obrigado...
Vem encontrar Santa Dulce dos Pobres pra agradecer por sua obra...
Neste lugar onde há Amor de sobra, bênçãos se derramam, na continuidade de um legado!
Uma multidão a caminho, que enxerga no Santuário de Dulce uma espécie de ninho, onde há um doce acolhimento!
Emoção, verdade, intensidade, sentimento...
Sorrisos e lágrimas que transmitem, com pura simplicidade, a humanidade se revelando de maneira pungente...
Entre passos e abraços, a esperança mostra sua pujança em gestos de entendimento e de paz...
Santa Dulce dos Pobres se faz presente na caminho da fé de sua gente!
Igreja em sintonia, elevando um Pai Nosso e uma Ave Maria pra celebrar sua primeira Santa brasileira e baiana!
Canções, orações e poesia!
Da rua lotada o entendimento de que da igreja ao hospital, tudo é santuário onde ela pisou, onde ela serviu e amou!
Toda sua obra é uma espécie de sacrário, onde a presença de Cristo se perpetuou!
Talvez, por isso, artistas, políticos, religiosos, intelectuais e, principalmente, os anônimos pobres mortais façam das suas obras passagem obrigatória...
O Anjo Bom da Bahia faz parte de sua história, permanece vivo em suas memórias, continua presente, como referência de Amor e Paz!