Terremotos

Por que parar de falar,
quando insistirem em dizer
que em terra de profeta
a lei é não pagar pra ver

Não somos de nenhum lugar
somos além desse tempo
quem joga a pedra pra acertar
depois lhe cita como exemplo

E é isso que faz
o mundo girar
sem que ninguém
se dê conta
É isso que faz
a gente mudar
nesse eterno
faz de conta...

Por que parar de crescer,
quando insistirem em falar
que depois de certa idade
tudo começa a desabar

Não fomos feitos pra parar
somos razão e sentimento
nossas idéias vão ficar
depois do asfalto e do cimento

E é isso que faz
o mundo girar
sem que ninguém
se dê conta
É isso que faz
a gente mudar
nesse eterno
faz de conta...

Memórias

Mão que desenha versos
pé que escreve o chão
pá que descava o imerso
pó que recebe o grão

Pão que dá sentido ao trigo
água faz render feijão
mel que adocica o figo
sal tempera o pimentão

E o tempo traz
lembranças doces
de um tempo
que passou

E o vento faz
como se fosse
ainda o tempo
que passou...

Luz que mostra o detalhe
cor que alegra o coração
pedra que permite o entalhe
sol que cega a escuridão

Bem que faz colher amigos
mal que amarga até paixão
dez livros são meus abrigos
mil sonhos são meus irmãos

Tempo volátil

O tempo volátil
o sonho intangível
o mundo portátil
o amor perecível...

O homem versátil
a fé consumível
a emoção retrátil
a paz ilegível...

Um intimista tocando um sax
na beira do mar de concreto
Algum artista passando um facs
na sala de estar do arquiteto

O otimismo perdeu o gás
no banco da igreja sem teto
E o humanismo agora jazz
onde quer que esteja seu veto...

Em quatro sílabas, canções
feitas de dor e frustrações
as frases vão e vêm
buscando o refrão
acordes vêm e vão
além de um amém...

à geração que não pede desculpas

Perdoe-me,
eu nunca ouvi
você dizer
desculpe-me
será que ainda
irei ouvir?
Eu sei que é
muito complicado
estar errado,
reconhecer
que se enganou...
Mas...
Desculpe-me,
reconhecer
também faz parte
então
perdoe-me
por te lembrar
que nunca é tarde
pra pedir perdão,
de coração,
e oferecer a mão
pro entendimento,
sem fingimento,
apenas apostando
na reconciliação...

CF 2010

Moeda
de troca
Cédula
de identidade
Cheque
ao portador
Cartões
em quantidade

E o seu valor
se mede
pela carteira
e pela morada,
o carro,
o cargo,
a roupa e a conta
e tudo pode ser só
fachada...

O dízimo
gordo na igreja
esconde
a falta de ética
poder é o que
se deseja
dinheiro
pra gente cética...

E o seu valor
é julgado
pela carteira
e pela morada,
o carro,
o cargo,
a roupa e a conta
e tudo pode ser só
fachada...

O ouro, a jóia,
o discurso,
a cerca, o muro,
o alarme,
o justo e a caridade,
não corta nunca
sua carne...

Senhores da Verdade

Não vá cair
na tentação
de se iludir
achando que
tem razão
em tudo
Melhor
ficar mudo
que insistir
nestas verdades
nuas e cruas
que são só suas...

Senhores
e senhoras
da razão
e da verdade
peço licença
pra ter
outra opinião
cada cabeça
uma sentença
uma ilusão
um pensamento
diferente
e pra ser gente
é só buscar
o entendimento
e união...

Proprietários
dos seus próprios
comentários
Donas de
frases feitas
do noticiário,
peço licença
pra emitir
o meu aparte,
infelizmente,
diz exatamente
o contrário
mas nem por isso
eu sou de marte...

E como diria Voltaire
dá pra discordar
de cada vírgula falada,
sem profanar
o direito mais sagrado
que cada um tem
de expressar sua verdade
o entendimento é
quem traz a liberdade...

Dibhow

Bons ventos guiem suas asas, amigo!
E as águas de São Pedro te recebam bem.
Todos nós sabemos que não há receita pro sucesso...
Mas desejamos que este novo tempo seja bem temperado,
a pitada que falta em sua vida...
Sem essa de só olhar pra frente!
Olhe pra trás sim e busque o sal que te faz único na Terra...
Suas raízes, sua família, suas amizades, seus amores, seus dons...
Saber misturar cada ingrediente deste na medida certa é o desafio...
Buscar o cio diário da superação, sua meta...
Bons ventos soprem sobre ti, amigo!
E tragam canções e melodias de longe,
murmúrio de águas cristalinas,
mistura de lágrima e suor, saudade e trabalho,
inspiração e transpiração...
O toque do mestre em cada prato é como um dos rifs que você nos deu...
É o segredo, o mistério, aquilo que vem de dentro, do centro de você...
O Toda Terça momentaneamente perde seu tempero, suas receitas, seu violão...
Mas fica uma porção bem grande do nosso parceiro chef, rifeiro de primeira grandeza!
Bons ventos cheguem até você, amigo...
E te façam decolar na direção mais certa...
Nada de estradas desertas...
Crescimento, evolução, mudança, atitude, andança, plenitude, coração, razão, sentimento...
Inquietude...
Com as mãos criar o inesperado, surpreender, talhar cada prato...
Com a alma elevar este chamado, exercer a profissão, com toda paixão,
ser cada vez mais exato!
E quando alcançar o céu, saber o momento perfeito de voltar, colocar de novo os pés no chão, aterrissar, humilde reinvenção...
Bons ventos te elevem, Rodrigo!

Bem estar

Toda tristeza
se acaba
quando você chega
falando com o olhar
e fazendo surpresa
pra me provocar...

Toda beleza
se instala
se você se entrega
inteira a sussurrar
uma linda represa
pronta pra inundar...

Meu mundo
de felicidade
minha cidade plena
puro bem estar
e estar bem ao seu lado
dá sentido a tudo
que eu quiser buscar...

Sobre a fé

Quem tem certeza absoluta
das verdades que acredita?
Quanto mais risco tem a fé,
mais provocante e bonita ela é...

Todo mistério é um desafio,
a guerra declarada à razão
toda verdade por um fio
um passo em falso e tudo perde o chão...

Quantos deuses cabem
no seu coração,
e em sua mente,
qual deles é inspiração?
Quantos deuses sobram
no seu pensamento,
e no seu peito,
qual deles lhe dá movimento?

Com Deus do seu lado

Toda mesa
é um altar consagrado
com Deus do seu lado,
no abraço do irmão...

Todo pão
é alimento sagrado
com Deus do seu lado,
em seu coração...

Colher o trigo,
regar o amigo,
se transformar
em abrigo e em pão...

Provar o vinho,
servir com carinho,
multiplicar
os ninhos com as mãos...

Todo sim
é um jardim perfumado
com Deus do seu lado,
plantando a oração

Todo chão
é solo abençoado
com Deus do seu lado,
colhendo a canção

Milagre de Deus

Olhe o céu
além do infinito céu
retire o véu
da idéia que se tem do céu

Sobre o azul
e além do imenso azul
sempre existirá
uma simples nuvem branca

Sinta o mar
além do próprio mar
embarque em suas ondas
espumas que o horizonte
esconde do olhar

Prove o sol
além do brilho do sol
sinta o seu calor na pele
e os dias que ele vem contar

Tudo é Deus
em criações e gestos seus
olhe, sinta, embarque e prove
todo milagre vem de Deus...

Uma floresta interior

Uma floresta interior
e o que nos resta é o amor
numa cabana abandonada

O tempo de Deus é seu
e tudo o que você leu
agora é página virada

Todos os conceitos
e preconceitos
não passam de pó

E sua visão da estrada
é somente uma virada
onde você está só...

Ou há três vultos
te acompanhando,
sem nenhum tumulto,
vocês formam um bando...

Não me faça perguntas

Você não vai
nem perceber
quando eu só for adeus
e alguns retalhos meus
fizerem remendos
em seu coração...

Você não vai saber dizer
quando foi que me perdeu
nesses atalhos seus...
Quantos referendos
na sua ilusão?

Meu peito anda tão cansado
tão apertado e longe de você...
Um pai com o coração pesado,
indignado com sua opção de não crescer...

Você não vai saber dizer
porque foi que me perdeu...
Nem imagino a razão...
Não me pergunte então...

Agua turva

A água está turva
não vejo mais o fundo
não sei quanto é profundo
o poço depois daquela curva...

O chão me fugiu dos pés
e a lágrima escapou do olhar
a dor se transformou num mar
na terra do viés...

Não tenho nada a ver
com as coisas desse chão
meu lar está a léguas da canção
meu coração não se sacia
com a água de quem
só quer beber...

A curva passou
o vento foi muito além
do eco de um amém
perdido entre a avenida
e o palanque...

De cima do trio
eu vejo animais no cio
e entre corpos e gemidos
a vida balança
na ginga e na dança
de um povo perdido...

Não tenho nada a ver
com as coisas desse chão
meu lar está a léguas da canção
meu coração não se sacia
com a água de quem
só quer beber...

Sobre a importância das coisas

Quantos pesos
e quantas medidas
você usa pra definir
qual a importância
que certas coisas têm
na sua vida?

Que fundamentos
você costuma usar
quais argumentos
te fazem julgar
sobre a importância
que certas coisas têm
na sua vida?

Gerações antigas
e gerações futuras
aguardam respostas suas...

Mas elas esperam
muito mais que palavras
gostariam de exemplos
de uma verdade nua e crua...

Não sei se você vai poder
satisfazer este desejo
afinal há coisas mais importantes
que os retratos amarelados na estante
de uma casa de onde você
cada vez mais se distancia...

Quantos pesos,
quantas medidas
pra definir a importância
que certas coisas têm na sua vida???

Setima paixão

A tragédia e o drama
a comédia e a trama
a aventura e o final feliz

Ficção e suspense
O terror e o romance
E a ação é querer um bis

Basta então
voltar a fita
e ver aquela artista
interpretar um personagem
inesquecível...

O fim do filme
é o início da canção
então, me diz,
a quem você credita
a arte, a sétima paixão...

Coletivo

Um bando de ondas
flores em revoada
cardumes de canções
poesias em manadas

Um cacho de olhares
um álbum de sorrisos
buquê de frutas doces
enxame de avisos


Milhares de sinais
revelam seu motivo
imploram um lugar de paz
um mundo coletivo


Esquadras de papéis
e nuvens de algodão
rebanhos de pincéis
armando exércitos de mãos

Constelação de anéis
florestas de intenções
orquestra em decibéis
e um grande elenco de ilusões

No meio do nada

Eu olho pro farol
um forte erguido
no meio do nada...
E as ondas quebram...

Sua torre é um sol,
um corte feito
no meio do nada...
E os barcos seguem...

Há quantos anos sua luz
mostra o caminho da entrada
de uma cidade construída
com a cruz e com a espada
de um outro tempo...

Se alguém olhar o mar
vai ver um véu de espuma dourada
envolvendo a face da pedra angulada
que é seu templo...

Navios e saveiros,
nacionais e estrangeiros,
pedem a benção ao faroleiro
e seguem entre as vagas...

E um pescador solitário
agradece o farol solidário
e multiplica seu pão
con tantos peixes na rede...

Viagem em você

Eu já passei
a noite inteira
pensando
em nosso amor

Já fui dormir
na quinta-feira
e acordei
no sábado

Então, diz aí
se não é paixão,
isso que eu senti
olhando pra rua sem cor
Quando você vem, me fazer feliz?


Já virei
a madrugada
e o sol
me revelou

Que tudo isso
não é nada
além de um
grande amor

Então,diz pra mim
qual a direção
que agora eu vou seguir...
Eu viro em que lua, no ar?
Onde te encontrar?
Pra que estrela eu vou?

Se chover, trovejar,
meu olhar, desaguou
de tanto te procurar
de repente te encontrou

Seu olhar, faz nascer,
pingos de canção no ar
vou colher, em você,
ondas do jardim do mar

Já passou das dez

Já passou das dez
você se atrasou mais uma vez
o celular se perdeu
na desculpa do outro mês

Ninguém constrói nada assim
sem trocar opinião
não há cerca no jardim
não há sim nessa paixão

Não chegou a sua hora
mas o bonde já passou
um castigo pra demora
é perder o avião...

Ninguém destrói tudo assim
com apenas um pisão
há mais flores no jardim
do que colhe a sua mão

Já passou das dez
Você se atrasou mais uma vez...

Goles de Canção

Abra o peito
Feche os olhos
Junte as mãos
Solte a voz

Abra a janela
Feche a porta
Junte pessoas
Liberte-se do não

Faça uma salada
de palavras soltas
temperadas
com um pouco de ilusão
Inaugure um tempo
de esperanças loucas
racionadas
em goles de canção...

Abra uma das mãos
Feche a outra
Junte uma grana
Solte-se no azul

Abra um sorriso
Feche seu zíper
Junte seus sonhos
Solte no salão

Faça uma balada
com palavras loucas
embaladas
com a dança da paixão
Inaugure um templo
com palavras soltas
reveladas
em gestos de oração...

No que você acredita?

Sempre espere o nunca
de quem aposta as fichas no caos
eles transformam resposta em pergunta
e sempre arranjam uma saída

Nunca duvide do agora
quando existe alguém disposto a vencer
é um trator andando em linha reta
uma metralhadora de vida

Diante de tudo e do nada
a esperança estará de pé
uma bandeira hasteada
manifestando uma fé

No que você acredita, então?
Na grana, no sonho ou nos homens?
No que você acredita, irmão?
Na trama, na idéia ou em Deus?

Mimetismo semanal

Já é domingo em meu peito
e o sábado é só esquecimento
meu rio descansa no leito
enquanto o seu cio é lamento

O nome da segunda é trabalho
e nas feiras, há frutas na terça
quarta e quinta são presságios
de uma sexta que a semana mereça

Já é sábado de novo
e o domingo é uma questão de horas
a espera de quem choca um ovo
achando sempre que o momento é agora

A semana não tem um apelido
seu nome se perdeu no formalismo
parece que nada mais faz sentido
o mundo não se enxerga no seu próprio mimetismo

Dois dedos de verso

Dois dedos de verso
uma estrofe de prosa
regando um papo inverso
fazendo da conversa uma rosa

Pétalas de poesia
folhas de papel
milhares de fantasias
soltas ao léu

Rimando sonhos diversos
e sensações saborosas
transformando sons dispersos
em canções generosas

Raízes de algum dia
um pouco do pólen de mim
esquentando a guerra fria
nas terras do meu jardim

Colo travesseiro

Senta
um pouco
sinta
o ambiente
canta
alguma coisa
conto
com você

Faz meu colo
travesseiro
me acompanha
num solo aventureiro
deixa a emoção fluir...

Certas verdades
é melhor omitir
mas desde quando mentir
é melhor que enfrentar a realidade?

Deita
logo
se aquieta
com cuidado
se enfeita
e se perfuma
se ajeita
do meu lado

Girandola

Move
o branco
de uma nuvem
no azul
do céu
tirando
o seu véu
na direção
do sul

Movem-se
os pés
sobre a pedra
e sob a chuva
regando
a terra
com suor,
cumprindo
o seu papel

Move
a Terra,
gira sobre si
revela
seus contornos
para o sol
e o seu movimento
sela
o beijo e o momento
sob o lençol...

Movem-se
os ponteiros
miram novos tempos
suspiram
de saudade
e inspiram os ventos
a falar a verdade
e aguardar
a primavera
dos seus sentimentos...

Carnavaleu

E no segundo mês
do ano que inicia
a festa da alegria
ganha a sua vez

Em fevereiro o som
toma conta da avenida
e pro resto da vida
tudo isso vai ser muito bom

sai do chão
chega perto
no meio da multidão
quem tá sozinho é deserto

Bye de mão
boca trocando de língua
é pura azaração
tem sorte quem tem a ginga...

E no segundo mês
do ano que virou
o carnaval é só amor
ninguém lembra mais do que fez...

Metades

Tá na hora
de dizer
adeus à Terra
e mergulhar
de cabeça
no céu...

Tá na hora
de falar
a língua do beijo
e encontrar
quem mereça
seu mel...

O som e a dança
vão transformar
os cordões numa trança
e misturar
os foliões na praça
de Osmar
de Dôdo
e do poeta
que estende a mão

Pra abençoar
quem lança
um olhar
enquanto
o povo avança
a pular
o amor
não se cansa
de virar paixão...

Tá na hora
de esquecer
a festa
e sumir
Encontrar
sua metade
em alguém,
se dividir...

Axética

Tava na rua de casa
e você apareceu
um beija flor sem as asas
mas com os olhos de Deus

Ganhei o dia
só de pensar
em um dia
ganhar você...

Tava na lua, distante
e você passou por mim
uma astronave errante
pousando em meu jardim

Perdi a hora
só de pensar
que agora
só quero você...

E nem sei onde mais
minha cabeça vai
se encontrar
com meus pensamentos...

Já nem sei onde mais
minha cabeça vai
se encontrar...