quarta-feira, 6 de maio de 2009

Trocentas



Tenho me batido um pouco com o inquietante e recorrente hábito das pessoas em quantificar a vida...
Se não existirem números, dados, percentuais, o fato perde a credibilidade e não tem audiência, que afinal é medida com números...
Se não existirem comparações matemáticas, "ano menos um", "índice negativo", "queda da bolsa", "alta dos juros", cotação do dólar, record no preço dos barris de petróleo, o mundo não anda, porque, ao que parece, o dia seguinte precisa destas informações para acontecer...
Roda ciranda, roda moinho, e o peão, coitado, vê sua cabeça girando, perdida entre informações que para ele não fazem nenhum sentido...
Quantificação...
Dia desses me deparei com um padre dizendo que com menos de dez pessoas na missa, não havia razão para celebrar. "Missa boa é missa cheia!"
Neste caso, ninguém leva em conta a "quantificação" de Jesus: "Quando dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali estarei entre eles"?
Cá com meus botões, acredito sinceramente que, embora necessários, os números têm "emburrecido" o ser humano...
Ao quantificar a sua existência, os pobres e mortais terrestres deixam de qualificá-la...
E aí?
Um passa a querer ser mil e, assim, vira nenhum (industrialização e robótica).
Dois passam a querer ser um e ficam no zero a zero (divórcio)
Três passam a querer ser milhões e viram negativos (quadrilhas, bandos, máfias)
E a família, não importa quantos integrantes tenha, tem desaprendido a dividir e somar, enquanto se multiplica em egoísmos e se diminui como instituição, anulando valores que, antes, pareciam infinitos, como a própria preservação da espécie...
Tudo virou número. Num telejornal é fácil assistir algumas mães quantificando os filhos assassinados.
No rádio, centenas de denúncias de corrupção...
Nos jornais, dezenas de notícias de pedofilia nas igrejas e nas famílias!
E a gente aumentando nosso percentual de aceitação, de normalização do absurdo, de compreensão do caos...
Qualificar? Pra que mesmo?
O que importa é o dinheiro no bolso, a cabeça tranquila e sem problemas no fim do mês e a consciência anulada.
A consciência coletiva, então, não passa de um conjunto vazio.
Quem pertence a quem, afinal?
O que está contido em nós?
Talvez seja o momento de voltar às raízes, talvez às mais quadradas, para enxergar as coisas por outros ângulos...
Chega de conjuntos vazios, elementos unitários, intersecções nulas... É tempo de união, de soma, de multiplicar talentos, adicionar qualidade em nossa existência...
Talvez tudo isso seja um grande sonho, você deve estar pensando.
Mas se você parar para analisar direitinho, tudo isso tem uma lógica matemática...
É só fazer as contas....

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