quarta-feira, 6 de maio de 2009

Conceitos próprios



Toda tentativa de encontrar o que te falta...
Toda narrativa pra mostrar o que procura...
Toda iniciativa de saciar o que te move...
Toda perspectiva de indicar o que se esconde...
A letra, com som, ante a vogal, a sílaba, o verbete,
cacoete atonal, palavra, rima, suma, súmula, frase,
crase, vírgula, até o ponto final.
A nota, a escala, a fala, cala o calo, rega o talo,
todo o som que inalo, entre acordes dissonantes, ritmos dançantes,
sonhos musicais de planetas pacíficos, menos desiguais, menos políticos,
menos navios e mais cais...
Suor. Bálsamo sagrado que brota da alma, corpo que se agita,
transpira e depois se acalma, num dilúvio que irriga nossas paixões...
Busca. Lente que procura o repente da inspiração e se ofusca
ao olhar a presente limitação de um tempo perdido entre safras generosas...
Campo. Seara, Saara, dádiva mais rara, tão cara, tão erosiva, tão explosiva,
fonte de cobiça, de luta e de injustiça, de dor, de perseguição e de luto...
Terra. Onde se planta, de onde se nasce, onde se enterra tudo que morre.
Chão. Base. Horizontal doação. Fértil geração de alimento e de vida. Podre aglutinação de excremento. Massa falida...
Tempo. Segundo, minuto, hora, cora o rosto num susto, e se tudo demora,
vontade de parar o mundo.
Relógio. Ponteiros, parceiros, arautos da espera. Seguem ligeiros, extraindo da atmosfera este teor passageiro, efêmero, faceiro, de tudo o que se move...
Tantos. Sou tantos em um só que até me espanto.
Às vezes dá um nó, noutras vezes me levanto e, mudando de assunto, me provoco
e me pergunto: será que eu sou quem acho que sou?
No entanto, sempre me respondo, compondo a interrogação que jamais um desses de mim me respondeu: quem mesmo é que sou eu?

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