segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um cara chamado André



Quando cheguei de Brasília aqui em Salvador, no auge dos meus sete anos, uma cortina se abriu e um novo palco apareceu ali, em minha frente, com personagens muito mais diversos do que os que habitavam o meu mundinho solitário da capital federal.
Meus irmãos mais velhos estavam em fases diferentes da minha. E eu ganhei novos irmãos. Para o bem da verdade, na realidade eram primos, quase todos da mesma idade que eu e que, seja por laços de sangue, aventuras, fantasias, futebol ou por afinidade de origem, se transformaram em manos de fé nesta estrada soteropolitana que há mais de 35 anos percorro.

Não poderia deixar de citar o mais velho dos primos contemporâneos, Dado ou Dudu, o grande mano Peeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeen. Um cara com o coração do tamanho do mundo, um talento fantástico para as artes e os negócios e uma sensibilidade em relação aos mais velhos, aos idosos, que por mais de uma dezena de vezes já me levaram às lágrimas por suas atitudes e disponibilidade. Do Pen, só grandes lembranças, aprendizados positivos e muita humanidade. Da mesma família, meu primo mais famoso, seu irmão Leco Maia, cantor, produtor, talento natural pra música e pro baba. Meu mestre na arte do Futebol de Botão. Foi na casa deles que primeiro me hospedei quando cheguei aqui.

Depois conheci meus primos dos Barris. Odi, Marquinhos, Lico e Carlinhos. Ir pra casa de minha avó Dulce (Durce) e meu avô Alexandre (Xanduba) era sinônimo de baba, de briga com Aloísio, porteiro mal encarado que vivia atormentando nossas vidas e discussão com a inesquecível Tia Regina. Irmãos, Odi e Lico sempre foram um exemplo de organização, método, disciplina e responsabilidade pra mim. Aprendiz do rei da bola entre os primos (Odi) e do rei do Xadrez (Lico, também chamado de Finura), tive a honra e o orgulho de, um certo dia, me ver dando testa a um e a outro em suas especialidades. Marquinhos e Carlinhos eram os mestres da aventura e da ação. Com eles me vi fazendo coisas que jamais imaginaria que pudesse. Vale lembrar aqui os sustos que pregávamos nas pessoas, vestidos com máscaras de monstros. E um tal de um reveillon que passamos juntos, jogando bola, correndo atrás pra ver de quem seria o último gol de 1980 e o primeiro gol de 1981.
Com Marquinhos aprendi a determinação e a ousadia de correr atrás do que queria. lembro que um dia saímos, eu ele e Leco, atrás de um patrocínio para o Maia Futebol Clube. Foi a primeira vez que corri a cidade de ônibus e que cheguei depois de meus pais em casa. Com Carlinhos, partilhei o gosto pela literatura, pelos gibis, pelos casos engraçados do Bonfim... Saudade de um tempo que já foi. Enfim...

Aí começaram a nascer os primos mais novos. Ricardinho, Rodrigo e Rafael, uma geração depois da minha. Com eles os momentos não foram tantos. Mas lembro de algumas noitadas fabulosas, entre uma e outra receita espanhola feitas por seu pai, onde se dava muita risada, se bebia um bom vinho e depois se varava a madrugada preenchendo algumas centenas de bilhetes de loteria. De Ricardinho lembro o talento incrível e precoce para o desenho. De Rafa, talvez o primo com o qual eu tenha tido menos contato em função da diferença de idade, lembro da timidez e da vivacidade. Com Rodrigo ainda deu pra compartilhar uns babas. Fosse de verdade, fosse nos nosso campos de botão.

E tinham também os Araújo. André, Beto, Binho e Dã. Grandes figuras. Por ter sido minha segunda hospedagem em Salvador, tive um contato maior com estas figuraças. Quem conhece, assim de primeira, não acredita que os quatro sejam irmãos. Ninguém parece com ninguém, nem na personalidade, nem fisicamente. Aliás, minto, Binho parece sim, mas é comigo, que sou primo. Meu sósia mais novo. Beto é a pesonificação da responsabilidade. O cara todo certinho que toda sogra quer ter como genro.
Binho é um gênio da informática. Um cara que desde cedo já mostrava sinais de uma inteligência acima da média, quase matemática!Não por acaso, hoje é meu consultor de informática, responsável pelas minahs melhores aquisições neste campo. Dã, o grande "Micóbrio", é destas figuras raríssimas que a vida nos presenteia. Não lembro de ter visto Dã sem um sorriso no rosto, sem uma piada nova, sem o astral lá em cima.

Antes de falar de André, que dá título a este artigo, peço licença para dedicar um parágrafo às minhas primas. Kite, Deca e Nana. Em minoria esmagadora na família, as mulheres Maias sempre trouxeram graça e charme aos grandes encontros entre os tios.
Kite é a natureza da sabedoria. Uma mulher à frente de seu tempo, que com seu jeito muito particular abriu caminhos para uma revolução de mentalidade em seu núcleo familiar. Deca é daquelas pessoas doces, cuja pureza e ingenuidade o mundo não merece. Nana, minha dentista das horas mais complicadas, mistura aquele ar de eterna menina com uma postura de quem sabe o que quer, poderosa minha prima mais nova.

Vale, também aqui uma menção aos primos mais distantes, aqueles com quem a gente não conviveu tanto, mas com os quais tivemos momentos importantes, marcantes. Luís Carlos, Luciana Aragão, Daniela Guerra, Jean, Bernard, Michel e François (Janete, Bernadete, Miquilina e França para os mais próximos)e Deco, outro talento para as artes, com quem tive a honra de trabalhar.

Bom, chegamos a André, ou Shoes, ou Sapato. O irmão mais novo que não tive. Um cara em quem, desde que cheguei nesta cidade, só consegui enxergar o bem. André é um cara muito especial. Ao escolhê-lo para dar o título a esta postagem, tenho certeza que todos os outros primos concordam, o fiz por merecimento dele. André é uma unanimidade entre nós, seus primos contemporâneos. É o cara decente por natureza. O cara que tinha tudo pra dar errado e deu certo. O cara reto, direito, honesto, contra tudo e contra todos. O cara cujo rancor não dura mais que um minuto. A tradução humana da carta de São Paulo sobre a caridade, André é paciente, benigno, não invejoso, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo espera, tudo suporta. Parafraseando o Apóstolo, "Quando era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança." Não vejo mais estas crianças em nós, mas a vejo em André. Não no sentido da imaturidade, mas no sentido da energia, da positividade. Tenho orgulho de ser seu primo, Shoes, de ter sido seu sócio, de ser seu amigo.

Através de você a minha homenagem a todos os outros primos, aos meus tios, aos meus irmãos e a meus pais e nossos avós, fundação de uma gente de bem, que de sua forma, de sua maneira peculiar, se quer muito bem entre si, também.Que os nossos ancestrais continuem olhando por nós e permaneçam em paz!

2 comentários:

  1. Como assíduo leitor do seu blog, não posso deixar de comentar este post... mais um muito bem desenvolvido (nada que me surpreenda)... mas um dia ainda sentarei com alguns primos e escreveremos sobre você...

    Abraços

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  2. ESSE TCHOLINHAS É ÚNICO...QUE SONHO!! ADMIRAÇÃO E ORGULHO SEU PRIRMÃO DADO

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