quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Feliz Coincidência ou coisa do destino?



Dia desses, depois de algum tempo, visitei novamente a tradicional Sorveteria da Ribeira, no bairro de mesmo nome, quase na península da cidade baixa em Salvador. Fui levar uns primos do Rio Grande do Sul, de passagem por aqui em suas férias e, como bom anfitrião baiano, recordando muito os passos de meu pai, me pareceu que ir ao Bonfim e depois saborear um daqueles sorvetes seria um passeio com cara, jeito e sabor de nossa cidade.
Após uma passagem pela Colina Sagrada, com direito à subir as escadarias da igreja e visitar seu interior, com sala dos milagres e imagens de cera dos papas João Paulo II e Francisco, fizemos um breve tour pelo comércio da região, onde a minha prima pode comprar alguns souvenirs para os parentes do sul. De lá rumamos para a sorveteria, passando pela linda igreja da Penha e pela antiga marina da Ribeira, trecho que parece ter sido esquecido pelo tempo...
Como já não visitava a velha sorveteria faziam anos, confesso que temi que a qualidade e o atendimento já não fossem os mesmos. Doce engano! Sorvetes maravilhosos, uma incrível variedade de sabores, a mesma simpatia por trás do balcão e o velho ritual de oferecer provas a seus clientes continuam ali, intocados pelo passar dos anos, o que me trouxe um sentimento de orgulho desta terra que abracei e que eu não sentia fazia tempos. Não sei bem qual o segredo, mas o fato é que a textura e o sabor dos sorvetes da Ribeira são incomparáveis. Provavelmente o preparo ainda é artesanal e executado com frutas verdadeiras, possivelmente da Feira de São Joaquim, bem próxima dali.
No calor que está fazendo em Salvador, o sorvete de Pitanga que pedi pareceu ter um gosto ainda mais especial. Os primos, um casal com seu filho de onze anos, provaram vários sabores até se decidirem pela mangaba, pelo umbú, pelo milho verde e pela tapioca. E, enquanto saboreávamos as iguarias, repetiam inúmeras vezes expressões de encantamento em relação aos sorvete e à Bahia...
Muitas lembranças vieram à mente e ao coração...Quantas vezes não estive ali, acompanhando meus pais no ofício de perpetuar a tradição do bem receber dos baianos... Agora estava eu repetindo seus passos, mostrando às novas gerações de parentes e amigos de outras terras, um pouco do que a tão cantada Bahia possui...
Para completar a emoção e me fazer refletir ainda mais sobre as peças que a vida nos prega, ao sair da velha Sorveteria, olhando com mais atenção para sua fachada, como que para memorizar aquele verdadeiro
templo das tradições soteropolitanas, percebi um detalhe que até então havia me passado desde sempre.
Abaixo do nome da Sorveteria tem o ano de sua fundação: 1931...
Feliz coincidência ou coisa do destino, esta coisa dos números?
Afinal uma outra instituição tradicional da Bahia, que tanto gosto, orgulho e alegria já deu a seu povo, também foi fundada neste ano: O Esporte Clube Bahia! O Bahêêêa, bi campeão brasileiro, tricolor de aço,
esquadrão vencedor, clamor de um povo sofrido! E de repente tudo fez ainda mais sentido...
Quem sabe se, inspirado dela história ininterrupta de sucesso da velha Sorveteria da Ribeira, sua irmã de aniversário e de berço, o Tricolor da Boa Terra não volte a encher seus torcedores de sabor, orgulho e alegria, resgatando todo o valor que sua camisa possui?
De volta do passeio, por via das dúvidas, retornando pela baixa do Bonfim e avistando a colina sagrada e as duas torres centenárias de sua igreja, não pude conter uma oração neste sentido, pedindo ao padroeiro deste terra para ouvir a voz que é seu alento: Bahêa, Bahêa, Bahêa....

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