quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Pequena parábola sobre desgostos...



- Menino chato!
Ela gritou...
E o coração dele foi se quebrando em pedaços, como uma camada de gelo fina se partindo e engolindo tudo ao seu redor com um súbito frio, um gélido calafrio, transformado em silêncio sem eco no espaço... Algo surreal...Como aquela animação em que a caça pela noz fazia terminar a era glacial...
Naturalmente não deveria ser nada importante o que aquele pai teria a dizer a sua filha...Melhor mesmo mantê-lo distante... Tanta coisa pra ela tem pra fazer!
-Menino chato...menino chato...menino chato...
A dor daquele pai ecoando solitária em sua mente, bravamente repetida em seu coração, sangrando de repente...Em sua consciência, nada que justificasse tamanha distância, intensa agressividade...de volta à idade média, que tal uma sangria?
Calmamente ele foi se retirando...se afastando daquele momento de espinhos...
Já sozinho, pegou um pote de poesia e passou em suas feridas...a tristeza foi cicatrizando....assim é a vida...a cruz entre louvores e desacatos, entre ramos e crucifiquem-no!
- Menino chato... menino chato...
A voz que antes o aclamava e que o chamava e com ele brincava e partilhava as descobertas da vida, agora simplesmente o rejeitava...
- Menino chato!
Diante do destrato, a concretude das lições aprendidas, o abstrato dos mistérios da vida...além de qualquer substrato...
Oh Mestre... fazei que eu procure mais....
Como filho, olhou pro Céu e agradeceu mais um dia...
Como pai, olhou pra Terra e compreendeu o que se esvaía...
Como espírito, se deixou estar...
E ofereceu seu tempo de agonia...
Murmure palavras sábias....
- Deixe estar...
Quando este tempo passar, só o Amor ficará!
E ele,ah, ele com certeza jamais desistiria de amar!

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