segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Espectador e expectador...



Nem sei o seu nome.
Apenas me bati com a senhora nos caminhos da vida e percebi o quanto destilava sua inaceitação consigo própria nos outros. Em pleno aeroporto, provavelmente esperando alguém que lhe era caro(a), com a família ao lado, no final de um lindo sábado de sol, bem na mesa ao lado da minha.
A princípio não entendi, muito bem. A Senhora, já idosa, tinha um aspecto de alguém bem cuidada pela vida e haviam pessoas amorosas ao seu lado! Mas ao reparar melhor, era visível sua capacidade de encontrar aqui, ali e acolá, mil e um motivos para reclamar e se zangar com a vida. E o fazia, de forma contundente e às vezes escandalosa, chamando a atenção de gente que estava apenas passando por ali, sem entender patavina do que estava acontecendo.Pior foi perceber o constrangimento dos que lhe acompanhavam. Notar o quanto aquela sua postura negativa e até agressiva os incomodava e feria!
Alguma coisa muito séria dentro da senhora deveria engatilhar aqueles arroubos...Alguma coisa capaz de cegar, de fazê-la esquecer de tudo e de todos à sua volta.Alguma coisa capaz de fazê-la ser tremendamente injusta, descortês e ingrata justamente com as pessoas mais próximas que, pelo que me parecia, faziam de tudo para agradá-la.
Até que um senhor, de uma outra mesa, não se conteve e gritou:
- "Vai ser rabugenta assim na casa da... Haja paciência!"
Achei que ia presenciar o maior barraco!
Mas aquele comentário grosseiro não repercutiu nem na senhora e muito menos em ninguém que a acompanhava...
Então entendi que a tal "rabugice" devia ser crônica e era aceita como uma característica pessoal daquela velha senhora pelos que estavam com ela.Talvez fosse simples impaciência com as coisas da vida, cansada de esperar que o mundo se adaptasse a seus gostos e pensamentos...
E eu, em pleno tempo de misericórdia, tentando não julgá-la, ainda mais na companhia de quem estava!Ao meu lado, o oposto daquela atitude. Uma pessoa que largou tudo para abraçar e cuidar de gente que é considerado o resto do resto da sociedade...Uma pessoa que enxerga tudo na vida com os olhos do Amor!Tão doce e misericordiosa que nem pareceu notar a carga negativa que a Sra. Rabugenta insistia em transmitir, logo ali ao lado...
E eu, no meio daquele silencioso e imperceptível "fogo cruzado"...
Aprendendo com a vida! E com as pessoas!
Entendendo que a verdadeira atitude de misericórdia é simplesmente escolher de que forma queremos olhar para a vida!
E não houve como não me transportar pro Evangelho de Marta e Maria, refletir e pedir a Deus que sempre me ajude a "escolher a melhor parte"...
Pouco tempo depois a Senhora e seus acompanhantes se foram, ela reclamando do tempo da espera e de alguma coisa relacionada ao café que lhe ofereceram...
Continuei sem saber o seu nome...
Acabei adotando a alcunha do impaciente cidadão que desabafou contra sua postura...
Senhora Rabugenta...
Talvez esteja generalizando, afinal só lhe conheci por minutos e nem sequer fomos apresentados...
Por isso, de noite, antes de dormir, rezei pela senhora...
Para que dias mais alegres inundem sua vida de luz e de gratidão, para que a senhora possa aproveitar melhor os momentos da vida, se desapegandode tanta exigência, negatividade e inaceitação...
E que as pessoas a seu lado, aquelas mais próximas, continuem a ter muita paciência e tranquilidade para conviver e aceitar este seu momento!
Tentei me colocar no seu lugar...
Tentei me colocar no lugar deles...
Acabei me colocando no meu lugar mesmo....
Humana imperfeição!
Nenhum de nós é perfeito!
Todos podemos aprender, melhorar e evoluir como seres humanos! Na minha próxima "viagem" ao aeroporto, se por acaso a encontrar de novo, não me contentarei com o papel de simples "espectador"...
Irei até a senhora e oferecerei um chocolate quente, mas como "expectador" de um retorno não muito benevolente da sua parte, para evitar decepções...
Ao menos terei lhe dado a oportunidade de ter em mãos algo mais doce, muito menos amargo que café e que a sua maneira atual de se alimentar da vida!
Talvez assim, eu mesmo, possa ficar menos amargo...
E, futuramente, nem perceber ou me incomodar quando algo parecido acontecer!

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