Há 20 anos atrás eu saía mais cedo da celebração de aniversário de um sacramento para testemunhar a realização da celebração de um outro.
Explico: deixava a missa que celebrava o aniversário de ordenação de um amigo para estar presente na celebração do matrimônio de dois irmãos na fé!
Por estes caprichos do destino ou, para ser totalmente honesto, pelo capricho de um ser humano mesmo, as duas celebrações quase que coincidiram...
Mas, felizmente, deu tempo de dar um abraço no amigo padre e estar presente e celebrar o casamento destes irmãos.
Lembro que na época, no afã de nossa juventude, ficamos todos indignados com o padre que, por um ciúme doentio que lhe caracterizava, não podendo ser
o celebrante do casamento (embora tenha sido convidado para isto), convidou o padre escolhido para ser seu substituto no casamento para concelebrar com ele
a missa dedicada ao seu aniversário de ordenação. Não satisfeito, ainda mandou um recado aos noivos: O casamento só começa quando terminar a minha missa...
Toda a pastoral de juventude se retirou da missa antes dela acabar, num protesto silencioso contra aquele injustificável arroubo sentimental de alguém que
respeitávamos e amávamos como pastor e líder espiritual.
Nos dirigimos ao casamento, realizado em outra igreja também para não atrapalhar a missa de ordenação já mencionada, e lá ficamos à espera do concelebrante,
prestando solidariedade aos noivos e celebrando uma irmandade que, vinte anos depois, continua viva porque lapidada sob os valaores essenciais do cristianismo.
A noiva, que tinha feito a promessa de se casar no dia de Nossa Senhora da Conceição, segurou as pontas e entrou radiante na igreja, para a alegria do noivo,
que até hoje se orgulha daquele sim muito bem dado dito naquele inesquecível dia!
Os dois demoraram cerca de um ano pra "voltar às boas" com o tal padre, mas no final tudo ficou bem...
Ontem, celebrando aquele dia e aquele sim, nos reunimos com eles e outros irmãos de fé!
E recordamos tudo o que havia acontecido...
Ainda não conseguimos entender tamanha incoerência daquele sacerdote, infelizmente já falecido...
Nas nossas lembranças e conversas, nenhum traço de rancor...
Virou "folclore" aquele comportamento inexplicável, talvez porque, dentro de todos nós, houvesse a certeza de que não havia nada de pessoal contra eles naquela atitude.
Era, pura e simplesmente, uma fraqueza individual...
Ciúme, receio de que sua missa de ordenação ficasse esvaziada, vontade de celebrar os dois eventos, quem vai saber sua real motivação?
20 anos depois nada disso realmente importa!
Importa a família linda que foi formada naquele dia, o sacramento que foi realizado e é vivido diariamente, o casal maravilhoso que continua firme em sua fé e em seu amor!
Importa também a lembrança carinhosa por um sacerdote que admirávamos e amávamos tanto, a ponto de um erro destes nos revoltar, por ser tão contraditório em relação à sua dimensão de pastor...
Importa a irmandade que nos reuniu ontem, em volta de uma mesa, para celebrar um tempo que não volta, lembranças que não se perdem e a repetição de um sim aos mesmos valores, à mesma alegria
e ao mesmo Amor que, vinte anos atrás, nos fez agir com o coração cheio de luz na direção correta!
Ontem, reunidos e felizes, conseguimos repetir a mesma ação!
E que venham os 30!
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