quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não era o cocô do cavalo do bandido? (Fotos e Vídeo Adriano Moraes)



Os que têm mais de quarenta como eu, certamente lembram a expressão que dá título a este post. O tal do “cocô do cavalo do bandido” era uma referência absurdamente denotativa à qualquer coisa que se julgasse desprezível.
Os anos passaram, os tempos mudaram, há tanto o que se desprezar neste país, que o pobre excremento eqüino perdeu sua força. Particularmente, eu julgava esta expressão totalmente perdida, inclusive do dialeto das minhas lembranças. Mas, com a idade, os “tios” de hoje, categoria para a qual fui deslocado precocemente, já há algum tempo, costumam ver seus passos cortados por estes “fantasmas” de uma época perdida.
O incrível é ver que certas coisas não mudam e, outras, quando mudam, mudam para pior.
Em virtude de uma hipertensão arterial hereditária, procuro manter uma rotina de exercícios semanais, capazes de manter sob controle o estresse e a ansiedade provocados pela rotina dos negócios. Um dos mecanismos que me mantém quase em forma é a caminhada noturna nos calçadões da Barra, sempre acompanhada de uma aprazível troca de idéias com amigos ou parentes, ao sabor do vento, das bênçãos do Cristo e do lume do Farol...
Nestas minhas andadas, freqüentemente, me deparo com a cena que inspirou estas linhas: em pleno calçadão onde os cidadãos vão exercitar seu direito de ir e vir, de se exercitar para subsistir, eis que se avolumam montes e mais montes de cocô. Cocô de cavalo. Mas pasmem. O cavalo não é do bandido. É da polícia! Justamente a polícia... Aquela que deveria estar ali para nos proteger e nos dar exemplos de conduta e cidadania. Mas não é isso o que acontece na Bahia...
Fico me perguntando o porquê disso acontecer por aqui. Há cavalos e carruagens em Nova York. Há a famosa polícia montada no Canadá. Porque não funciona na Boa Terra? Porque aqui não dá?
As respostas que encontrei são tão estapafúrdias que, sinceramente, não vale a pena comentar. Ouvi de um policial que o problema é falta de recurso para comprar as bolsas que são usadas em outros países e ficam, estrategicamente, posicionadas para receber o conteúdo intestinal dos cavalos. Numa rádio daqui, ouvi um secretário responder que estas bolsas não foram adquiridas ainda por falta de fornecedores para participar de uma licitação. Sim, porque não sou só eu o incomodado com esta situação. Outros também reclamam, denunciam, gritam, clamam por seus direitos, mas a calçada se mantém sempre adubadamente decorada, à espera de um desavisado que contamine seu sofisticado sistema de amortecimento de impactos, com um pouco da esverdeada e malcheirosa pasta ali depositada.
Mas o pior, é que ainda tem coisa pior.
Os irracionais bucéfalos, coitados, incapazes de serem educados para esperar até o sanitário mais próximos são dignos de compreensão e até mesmo de uma dose extra de paciência.
Do alto da sua sabedoria eles desfilam pela calçada, “cagando e andando” sem medo e sem culpa. São animais, pobres coitados...
Mas o que dizer dos outros animais? Os racionais?(será que são mesmo?)
O que dizer de gente que utiliza a calçada para demarcar terreno com a acidez nauseante de sua urina? O que dizer dos soteropolitanos e sua incrível falta de cerimônia em “bater um mijão” no primeiro lugar que aparecer? O que dizer desta gente que parece sentir prazer em se exibir ao respingar pelas escadas, pelas esquinas, pelas ruas, pelas calçadas, o produto amarelo de seus rins?
O cocô não é mais do cavalo do bandido. A calçada não é mais do pacato cidadão.
Somos excrementos portáteis sem nenhuma educação, cagando e mijando para a reputação de nossa cidade, de nossos pontos turísticos, de nossa terra.
Pero Vaz de caminha, em sua carta ao Rei, já afirmava: aqui se plantando, tudo dá.
Talvez não se referisse à qualidade do solo, mas à eficácia dos regadores e adubadores de plantão.
Entre uma ou outra rajada de vento que alivia a fétida podridão de nossas ruas, seguimos caminhando sem lenço, sem documento, sem razão alguma para protestar.
Esta é a nossa cultura, nosso jeito de ser vulgar!
Entre os cavalos, sejam eles dos bandidos ou da polícia, e os mijões de plantão, a pergunta é: quais são as verdadeiras bestas?
Juro que fico com a segunda opção!
Desprezível já foi o “cocô do cavalo do bandido”...
Hoje mais não...
Os bandidos já não têm cavalos...
Os dejetos dos equinos da polícia têm até explicação...
Mas, que objeto de delícia é este de mijar na rua, cidadão?

5 comentários:

  1. Pois é....
    Enquanto tiver carnaval tudo bem, as pessoas estão cagando e andando, iguais aos cavalos.
    O holocausto da mediocridade se aproxima....
    salve-se quem puder !

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  2. E num momento de inspiração acabei criando um refrão :

    A festa taí
    A mesa tá posta
    Quanto pior melhor
    Hoje vou comer bosta

    -_-

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  3. By Vela

    Ode ao Medíocres

    A festa taí
    A mesa tá posta
    Quanto pior melhor
    Hoje vou comer bosta

    Vejo os medíocres a falar
    Tanta baboseira que me faz engasgar
    Numa profusão de embustes
    Me consolo com os abutres

    E o senador salafrário
    Que tem vida de perdulário
    Acha que está abafando
    Mas na verdade tá se cagando

    Por fim chegaram a festa
    Os últimos convocados
    Mas alguns ficaram injuriados
    Porque os vermes foram chamados

    Enquanto isso, a artista latina
    Esta a procurar a latrina
    Mas acha os intelectuais olhando
    Os intrincados caminhos do vômito

    No final o desespero
    Todos serão jogados no atêrro
    Mas os abutres a voar
    São os únicos a comemorar

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  4. Algumas ilustrações podem ser vistas em:
    http://miud.in/83T

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  5. Outras nos links:

    http://www.youtube.com/watch?v=aYhXpindXEE&feature=youtube_gdata

    http://www.youtube.com/watch?v=1EwAb0h42r8

    http://www.youtube.com/watch?v=fsLt4xHpGNY&feature=youtube_gdata

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