Sobre Boechat já se falou de quase tudo!
Do justíssimo reconhecimento ao brilhante e inato jornalista que foi, à exaltação do marido, pai, amigo, ser humano altruísta e verdadeiro que era!
Da humanização que trouxe ao jornalismo de Rádio e Televisão, à coragem de enfrentar e questionar os poderosos de plantão com seus rasgos de impetuosa delação...
Dos seus sedutores olhos azuis ao equilíbrio perfeito entre o alcance popular e a elegância de sua oratória...
Da amplitude de seu conhecimento ao insólito início de sua jornada profissional...
Não vi ninguém falar sobre a falta que fará a sua risada...
Aberta, franca, generosa, às vezes até mesmo exagerada, de risada à gargalhada ela se espalhava e contagiava uma multidão de ouvintes que, diariamente, esperavam o seu encontro marcado com José Simão para com eles seguir, numa espécie de contra-mão, na direção da diversão garantida, do bom humor partilhado, do estar de bem com a vida!
Sem dúvida o Brasil perde sua voz de contraposição, de alerta, de vigilância, de imparcialidade e de firmeza! Perde seus arroubos de indignação diante da repetição dos mesmos erros, diante das mazelas da corrupção...
Perde seu foco na notícia verdadeira, confirmada, reconfirmada, seu compromisso com a credibilidade da sua informação...Os "Furos"? Tantas vezes são uma furada... O que importa ser o primeiro a dizer se a fala está errada, mal embasada, carece de conhecer?
Mas, sobretudo, o Brasil perde sua risada... Sua autenticidade escrachada, sua espontaneidade revelada sem precisar se conter...Da crítica velada nas piadas prontas á realidade de faz de contas de vidas predestinadas...Dos trocadilhos às vezes infames às páginas viradas de alguns vexames, tudo ganhava vazão e razão nas suas gargalhadas com Simão...Um estado de graça ainda não visto até então...A dupla consegui nos convencer, no brilhante duo que diariamente fazia, que já que éramos, de fato, os palhaços de plantão, nada mais natural do que assumir esta realidade e, por que não, adicionar a ela pitadas de "mais valia", contra os altos juros da "depressão"...Nada de economia nos sorrisos...Diante do caos eles são mais que precisos... São essenciais para encontrarmos harmonia e paz!
E o nosso Brasil vai ficando mais triste, mais pobre, cada vez menos brasileiro...
Nossos domingos sem Senna já não são os mesmos...
Nossas manhãs sem Boechat não serão as mesmas...
Em Salvador, também não serão as mesmas nossas reflexões sobre a Vida, sem o filósofo Saja, companheiro de embarque de Boechat para um outro nível de existência, neste difícil onze de fevereiro...
Dos rejeitos da lama de Brumadinho, das cinzas de um futuro time rubro-negro quase inteiro, um país que não se redime nesta mania de sua gente de ser mais esperta, de cada um querer sempre ser o primeiro...
Nesta prática nefasta, temos sido os primeiros a perder em tudo...
Temos agora um microfone mudo...
E este silêncio, a mim, diz é muito...
No lugar do sorriso, assim, sem aviso, a alegria fora do ar...
De improviso, nossa saudade só quer chorar diante da piada de mau-gosto que vem da ausência nos vai calar...
A morte não é um fim....
Há recomeços nos lutos...
Nossa força está muito além dos tropeços e sustos que parecem não ter fim...
Um tipo de castigo que insiste em ferir...
É preciso gritar, necessário chorar, impossível sorrir...
É tempo de recomeçar...
Quem sabe revendo esta fuga do DNA que insiste em pegar nossas dores e as carnavalizar...
2019 nos faz pensar se não é tempo de transformar este gene...
Vamos trabalhar para ter, de fato, motivos pra celebrar...
Por enquanto, o que temos pra agora, é a oportunidade que temos de estar vivos...
Mas até quando?
A vida é um piscar...
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