domingo, 25 de março de 2018

Ramos



Os ramos dançam com o vento
como um lamento premonitório
que traduz a fragilidade daquela exaltação...
Afinal o "hosana" se transformou em "crucifica-o"
em tão pouco tempo...
Ao que alguns logo dirão, num refrão "desculposo":
-Mas já náo estava tudo escrito? Tudo profetizado?
Os ramos se estendem pelas ruas...
Tingindo com o verde da esperança as realidades mais duras...
Um tapete de hipocrisia pura...De incoerencia humana...
Salve o Rei que nos negaremos a salvar por causa de um bandido...
Qual é mesmo o sentido?
Mas se Ele não veio para os que têm sentido ou para os que conhecem o caminho...
Ele veio para os perdidos, para os que caem em tentação, para os fracos de coração!
Veio para os que mudam de opinião como o vento muda de direção...
Os ramos logo serão cinzas num novo ciclo quaresmal...
Virarão pó, como a fé esquálida de um povo incongruente...
Virarão pó como esta gente e suas dúvidas e seus questionamentos...
E marcarão a face dos tementes de Deus com uma cruz em suas testas...
Fim de carnaval...Final de festa!
40 dias num deserto de pó! E só!
Na tempestade de areia os demonios espreitam nossos medos...
Não há mais segredos tudo é entendimento...
O Filho de Deus entre nós...
Os ramos dançam com o vento, preconizando o sofrimento do próprio Amor!
Depois do ato consumado, diante do rei renegado e desfigurado, do homem crucificado,
só haverá um brado de louvor:
- Este homem era verdadeiramente Filho de Deus!
A voz trêmula de um soldado...
Quase um chamado, largado no vento...
Os ramos, pobres coitados, todos ressecados, agora dançam com o chamado!

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