segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Justa homenagem...





Em tempos de leis, tribunais, legisladores e magistrados em xeque, quando interesses pessoais tem contaminado as três esferas do poder em nosso país, chega em minhas mãos uma espécie de bálsamo, um verdadeiro antídoto contra o descrédito geral de um povo em relação a seus representantes nas câmaras e cortes oficiais da nação.
Trata-se de uma justa homenagem feita pela Justiça Federal do Brasil aos seus Magistrados Pioneiros, na comemoração do Jubileu de Ouro de sua implantação no Brasil. Entre os homenageados, alguém que conheci de perto, com quem tive a honra e o privilégio de conviver por inesquecíveis 13 anos e meio e de quem recebi grandes exemplos de honestidade, ética, justiça, fé e Amor: João Augusto Didier, meu saudoso pai!


No ano de 1967, quando ele era nomeado um dos primeiros e mais jovens Juizes Federais, em Brasília, eu também chegava ao mundo naquela que, á época, era carinhosamente chamada de "Capital da Esperança".
Neste tempo de convivência e aprendizado, o pai, o cristão e o juiz Dr. Didier (como era conhecido),
se revezavam na missão de me transmitir para seus três filhos os valores pelos quais, diariamente,
combatia seu "bom combate". Ainda em Brasília, um exemplo marcante de sua conduta ética. Perto do Natal minha mãe recebeu, em casa, um belo embrulho destinado ao Casal Didier, com um conjunto de baixelas de prata. Como remetente, um dos maiores escritórios de advocacia da época. Pouco depois as esposas dos outros juízes (creio que eram seis ou sete na época) ligavam para minha mãe para saber se ela também tinha recebido as baixelas. Mais tarde, ao chegar em casa, e tomar conhecimento do fato, meu pai e minha mãe resolveram ir até a casa do advogado para devolver o presente, alegando não poderem receber aquela gentileza para que meu pai não se julgasse parcial nos próximos casos do referido escritório. O Advogado, lógico, disse não ter nenhuma segunda intenção com aquele gesto, mas entendeu meu pai e disse a ele que estava impressionado com aquele gesto, pois dos seis ou sete, ele tinha sido o único a devolver as baixelas. Era uma questão de foro íntimo, de consciência mesmo.


Aliás, não foram poucas as vezes que vi meu pai tenso,  preocupado, com enxaqueca, no árduo e desafiador cumprimento de seu ofício como Juiz federal. Dr. Didier,
por exemplo, foi o primeiro Juiz Federal a dar sentenças desfavoráveis a dois governadores de um certo estado nordestino, que se revezavam no poder e encarnavam a arrogante e nada saudosa figura dos coronéis. Também foi  o responsável por sentenças contra intocáveis advogados medalhões que, por sua história e reconhecida contribuição no meio jurídico, muitas vezes se consideravam acima da lei ou incapazes de cometer erros em suas causas. Em todos estes casos, como juiz, seguiu rigorosamente a lei vigente e, imparcialmente, como deve ser, julgou  as questões sem olhar a quem. Estas corajosas qualidades de coerência e liberdade de conduta, frutos de uma  consciência limpa e comprometida com os seus próprios valores, deveres e com o Direito em si, lhe renderam,
como não poderia deixar de ser, inimizades, perseguições e injustiças. Por outro lado, trouxeram-lhe prestígio, admiração, respeito e verdadeiras amizades em todos os âmbitos de sua vida.
Em Janeiro de 1981, depois de passagens  marcantes pelos fóruns de Brasília, Manaus, Fortaleza e Salvador e após consecutivas indicações para o cargo de  Ministro no STJ, no auge de sua carreira jurídica e de sua vivência cristã, meu pai veio a falecer, precocemente, aos 48 anos de idade, vítima de um AVC fulminante, no exercício de sua função como Juiz Federal da 3ª Vara do  Fórum Teixeira de Freitas, em Salvador- BA, deixando uma grande lacuna em nossas vidas.
Trinta e seis anos depois de seu falecimento, sua viúva, seus três filhos (um deles advogado)
e seus cinco netos (dois deles advogados) continuam celebrando a sua memória e todas as inspirações
que a sua breve, mas marcante, existência lhes deixou como legado.



Em nome desta família, deste legado e dos amigos que meu Pai deixou, gostaria de agradecer esta justa homenagem e parabenizar a todos os responsáveis por esta bela iniciativa que resgata, para a história, a memória embrionária da Justiça Federal do Brasil.


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