segunda-feira, 25 de julho de 2016

Servindo a qual senhor?



Arte e arquitetura restauradas... Como não se encantar?
Como não valorizar pinturas reveladas, depois de séculos de anonimato?
Toda restauração é digna de admiração! Isto é fato!
E depois de toda exclamação, cabe uma interrogação:
Toda esta ornamentação permanecerá nos moldes do abstrato?
O que será feito de concreto, agora que de novo uma igreja tem seu teto?
O que foi feito neste tempo de reconstrução com a vizinhança?
Onde está a verdadeira e necessária restauração?
Como está o entorno da paróquia? O que se fomentou de esperança?
Como estão os jovens e as crianças?
Já vi tantas e tantas reformas, tantas e tantas restaurações...
O pó, o cupim, o descuido, o uso, o tempo, voltarão a ferir a "pele" do templo...
Mas... E a reforma interior? Aquela que Deus pediu a Francisco em Assis:
"Reconstrua a minha igreja! Mostre a ela seu real valor..."
Uma paróquia não é um conjunto de obras em um prédio para encantar decoradores e arquitetos,
artistas e todo um séquito que confunde o que é Amor...
Celebrações podem estar repletas de gente... E vazias de fé e fervor!
Não basta restaurar a casa, tem que ter Amor pra preparar o alimento,  pra reunir uma verdadeira família de irmãos em volta da mesa, pra ser o responsável por seu sustento...
Falo de sustento espiritual, este sim capaz de restaurar comunidades que não aceitam ir além do superficial...
Então me pergunto: onde está o essencial?
Onde está a juventude fervorosa que garantirá o futuro de um ideal muito além dos próprios muros?
Onde está o fundamental?
Onde está a generosidade das pessoas que se consagram insubstituíveis e fazem de um templo seu próprio porto seguro? Porque só se preocupam com seu quintal?
Voltando ao assunto: arquitetura e arte restauradas...
Um templo religioso lindo! E o que mais?
Que outras boas novas nos trazem os ventos que sopram de lá?
Além de egos devidamente alimentados por cumprirem esta missão, o que há de novo?
Onde está o povo, cansado de contradição?
Onde estão os filhos, os netos, as famílias?
Depois de tanta energia despendida, a paróquia será de novo paróquia algum dia?
A igreja de cada um presente ali  sofreu alguma restauração?
Diante de tanta beleza, da suntuosa e inebriante riqueza artística, da maravilhosa e arrepiante grandeza histórica, talvez se encontre alguma retórica capaz de convencer, mesmo quando a incoerência e a hipocrisia selam algum poder...
Diante da simplicidade da capela de Assis, dobro meus joelhos e ouso questionar:
-A que Senhor serve tanta ostentação, quando é fruto de podridão? E se é verdade que a fé sem obras é morta, diante de uma obra sem amorosidade, sem misericórdia, sem profundidade, sem planos de continuidade ou sentido de comunidade, o luto só pode ser pela fé...
Nenhuma novidade, contudo.Desde a idade média já se agia assim. E entre tantos aplausos e reverências, sempre houve uma voz dissonante clamando por transparência, por coerência...
Aos que celebram, felizes, este momento, lembro os deslizes cometidos para esta obra chegar ao fim...Busquem os reais motivos que te levam até aí...Apego, ambição, orgulho, admiração, sensibilidade, amor á arte, á arquitetura, política de boa vizinhança, amizade...
No fundo de seu coração, diante do espelho da própria alma, responda a Deus e a si mesmo...
De onde estou, permaneço atento, convicto de que Deus não está só no templo, no convento, nas paredes e nos altares. Deus está muito além dos lugares, por mais que signifiquem pra mim...  Só é preciso que Deus permaneça sendo caminho, verdade e amor dentro de mim!

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