terça-feira, 14 de junho de 2016

Sobre o massacre em Orlando




Não, desta vez não era um gorila...
Eram seres humanos...
E, de verdade, não importa nem um pouco o que eram além disso.
Eram humanos...
Semelhantes a mim, a você, a todo ser dito racional que consegue ler e entender o que agora escrevo...
O que importa se eram brancos, gays, cristãos, negros, héteros, muçulmanos, amarelos, bissexuais ou hindus?
Eram humanos...
O que importa se eram homens, mulheres, crianças, adolescentes ou idosos?
Eram humanos...
Eram semelhantes a quem os assassinou...
Será?
Humanos como os milhões que morrem de fome no planeta desperdício...
Como os milhares que morrem de sede no planeta água...
Como as centenas que morrem de balas perdidas no planeta guerra...
Como as dezenas que morrem decapitados no planeta intolerância...
Como aquele que morreu ontem num assalto no planeta violência...
Humanos como aqueles que fazem e produzem tanta barbárie...
Todos humanos...
Pele, carne, osso, órgãos, sangue, emoções, sentidos, neurônios, tudo igual aos seus...
Iguais aos meus...
Pelo menos na essência...
Não, não era um gorila desta vez...
Era gente...
Gente que alguém resolveu matar por pensar diferente...
Gente que alguém decidiu sacrificar assim, num repente!
Na terra da fantasia, no templo da magia, a realidade dura e deprimente de um assassino frio e inconsequente!
Selvagem, animal, radical na sua estranha e inconcebível forma de "ser gente"...
Terror, ira, mal...
Na sua decisão de excluir desta vida semelhantes seus, sabe-se lá em nome de que "deus", o covarde portador de armas de fogo aleatoriamente vomitou seu ódio e sua insanidade sobre o mundo de tantos...
Que mundo...
A qual mundo esta criatura pertencia?
Na sua visceral agonia de rasgar todas as leis naturais da humanidade, em que mundo ele vivia?
Em que cela o aprisionaram, em que zoológico o encarceraram, para alimentar tanta fúria, tanta penúria nos seus dias?
No seu ilógico manifesto de nada, na sua intangível e negativa apologia, somente o resto, do resto, do resto, do resto de uma mente vazia...
Sem valores, sem esperança, sem respeito, sem dignidade, com um buraco negro no peito pra justificar tanta atrocidade...
Não, desta vez não foi um gorila...
A ameaça não veio de um animal...
Será?
Como é que tanta selvageria cabe num ser racional?
Aos parentes das vítimas indefesas, neste momento de luto e dor visceral, meu enorme respeito...
Nada que seja dito responderá à pergunta que lhes esvazia o peito e esmaga o ser:
-  Por que, meu Deus, por que?

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