terça-feira, 28 de abril de 2015

Sonetus Brasilis




Ergam os escudos
fiquem mudos
aguardem o temporal
Chuva de flechas
sobre as cabeças
como dilúvio de quintal!
Onde estão as arcas?
Onde estão as barcas?
Onde está o produto do saque?
Onde estão os astutos de fraque?
Se fazendo de surdos...
Ergam as barricadas!
Içem as velas!
Definam logo as cruzadas
e a armada de caravelas...
Façam barulho,
tirem o entulho das favelas!
Deixem o orgulho de lado,
ouçam o chamado das novelas!
Onde estão os negros e os índios?
Os verdadeiros, pura raça...
Os pioneiros da bagaça...
Onde estão os prisioneiros lusitanos?
E o carrossel de nobres puritanos
que por aqui se perdeu,
hereditários europeus...
Chamem os comendadores,
façam valer seus quinhões
façam valer seus canhões
pobres barões aduladores...
Chorem diante dos fortes
Tremam diante da morte
eis aí as invasões...
Felizes ou não
com suas raízes,
mereçam as cicatrizes
que os holandeses deixarem...
E as meretrizes
herdadas dos franceses...
Enquanto voltam para
seus mares, para seus pares,
vejam se erguer aqui
Zumbi dos Palmares!
E as árvores da cor de brasa
tinjam os caras pintadas
e inspirem a imperatriz
à idéia feliz da Lei Áurea!
Libertem todos de seus covis...
Os negros da escravidão.
os índios da exploração,
os brancos da ambição
e todos do preconceito
enraizado na cabeça
e no peito,
na hipócrita
tolerância servil...
Salvem os mamelucos,
tirem os caboclos da sala,
protejam as mulatas do Brasil!
Salve Salve pátria amada!
Salve mãe indelicada!
Salvem, salvem o Brasil!

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