terça-feira, 20 de maio de 2014

Mea culpa!



Fui um dos primeiros a atirar pedras nos ditos cidadãos de bem que se aproveitaram da greve dos policiais em suas cidades para saquear as lojas. Peço perdão, eu estava errado.
Embora, intimamente, minha educação e valores jamais me permitissem sequer pensar em tal ato, ao me colocar no lugar de muitas destas pessoas não tenho como lhes julgar, muito menos como lhes condenar.
Por isso, peço perdão. Perdão por não ter me lembrado, antes de atirar a primeira pedra, de quantos exemplos o nosso povo tem assistido, de total desrespeito ao bem comum (o que dirá ao do outro). Perdão por ter me passado, no meu ímpeto de defender o que é justo, de quanto a injustiça tem primado neste país. Perdão por não ter segurado a mão, antes de arremessar minhas insensatas pedras, e não ter ponderado sobre como a falta que referências de lideranças éticas podem contribuir para este tipo de atitude...
Peço perdão por ter permitido que minha pequenina revolta sobre um gesto tão menor se tornasse maior que a imensa e crescente revolta de um povo, indignado com os desmandos de seu país e desacreditado dos destinos desta nação! Sim, por minha culpa, minha máxima culpa, me embasei em argumentos ideológicos e filosóficos, me afastando do cerne da questão: o transbordamento da negatividade!
Vejam que contradição: o dito e proclamado "país do futuro" não acredita mais no amanhã! Desistiu, entregou os pontos, parou de querer progredir e aceitou a ordem inversa de se corromper! Minhas pedras, tolos e equivocados pedregulhos verbais, erraram feio o alvo. Acertaram em quem já se cansou de apanhar. Naqueles que já apanharam tanto, que já se anestesiaram, simplesmente desistiram de sentir dor por este país, por considerarem, que, de fato, não vale mais a pena...
 Minhas pedras deveriam ter mirado os telhados de vidro, fossem eles dos palácios públicos dos seus três desrespeitados poderes, fossem dos templos de consumo, tão ávidos, usurários e envolvidos com tudo isso que está aí e que, hipocritamente, tanto criticam...
Perdão, mil vezes perdão. Eu não parei pra me colocar no lugar daqueles que viram sua esperança representada por um dos seus, operário, nordestino, retirante, mutilado... Eles que acreditaram, que exultaram quando o viram no poder e que, hoje, não tem mais esperança, nem pra beber, nem pra comer...
Tudo se esvaiu na indigestão de poder de uma legenda que transformou idealismo e militância em corações partidos, ganância e perpetuação de poder! Definitivamente os errados nào são os que se aproveitaram da falta de segurança e vigilância...Eles só seguiram o script, imitando os modelos que têm para seguir, seus líderes do Executivo, Legislativo e Judiciário que não se dão o respeito e, assim agindo, dão a estas pessoas o direito de lhes seguir...
Ainda assim, não posso concordar com o fato... Não conseguiria... Apenas guardo,humildemente, minhas pedras para os merecidos alvos...E aproveito para jogar um pouco mais de fervura no caldo...
Hoje, depois de refletir, creio que tudo isso precisava mesmo acontecer... Que as vitrines quebradas e os bens subtraídos nos sirvam como um novo símbolo... Se é mesmo verdade, como afirmei mais acima, que a culpa de tudo isso não é daqueles que aproveitaram o momento sem vigilância, somos nós os culpados por não termos vigiado um país que é nosso e ter deixado gente sem escrúpulos invadir as nossas casas, as nossas mentes, os nossos votos e os nossos atuais podres poderes...Há muitas pedras ainda... jogá-las separadamente por aí não vai mudar nada! Talvez o melhor caminho seja uni-las e criar uma fortaleza capaz de proteger este país daqueles que vão virar pó na estrada!

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