sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Vamos saltar a altura de nossas diferenças...


Uma declaração infeliz ou uma repercussão exagerada?
Venho batendo na mesma tecla já tem tempo. 
Quem me conhece sabe que, embora católico heterossexual por opção e branco por herança genética, não tenho nenhum preconceito em relação a religião, opção sexual ou raça.
Mas algo me intriga, às vezes a ponto de me deixar indignado: a maneira como minorias que lutam justa e inquestionavelmente por suas causas e opiniões costumam tratar as causas e opiniões alheias.
Tomemos este caso por exemplo, da supercampeã Isinbayeva. Há uma lei no seu país, cuja cultura é completamente diferente da ocidental, que inibe a manifestação pública da opção sexual das pessoas. Não vou entrar aqui no mérito do absurdo ou não de uma lei destas nos tempos atuais. Muitos já desfraldaram esta bandeira. Trago a proposta de olhar para o outro lado da história, respeitando a outra forma de ver e julgar as coisas. 
Penso que, historicamente, a luta e as conquistas pela liberdade de escolher e expressar a própria opção sexual só se tornaram possíveis graças a outras lutas e conquistas pela liberdade de expressão, muito mais básicas no que se refere a hábitos e costumes que as que vemos hoje em dia.
Cronologicamente, aqueles que lutavam e lutam, até hoje, pela não aculturação dos povos nativos (exemplo dos índios no Brasil), pela liberdade dos escravos, pelo direitos iguais das mulheres, pela não discriminação de pessoas desquitadas e seus filhos e tantos outros exemplos que poderiam aqui ser citados, abriram espaço para que as cabeças também se abrissem. Hoje, a cultura ocidental entende e defende esta liberdade de maneira quase fundamentalista, o que, na minha modesta opinião, começa a gerar algumas distorções bastante perigosas.
Sempre pensei que se quero ter minha opinião respeitada, primeiro preciso respeitar a opinião do outro e seu direito inalienável de pensar diferente de mim. Isso não me isenta de lutar pelo que acredito e defender minhas causas. O que me parece uma grande incoerência é buscar respeito desrespeitando o outro e a sua maneira de pensar. 
Sou católico e divirjo de uma série de questões práticas de posicionamentos da igreja à qual pertenço. Internamente vou debater, discutir, lutar pelo que acredito ser coerente com os valores do cristianismo, por achar que é meu dever e direito enquanto católico. Mas sou incapaz de desrespeitar uma outra religião e seus posicionamentos, justamente por não pertencer a ela e não vivenciar a sua prática.
Sou heterossexual e tenho opinião formada sobre uma série de questões ligadas à homossexualidade e à bissexualidade. Tenho amigos e conhecidos gays e os respeito profundamente em sua opção. Por uma questão absolutamente ideológica divirjo de alguns de seus pleitos, por considerar incoerentes com sua própria luta. Mas considero absolutamente legítimo o direito de cada um deles lutar e se manifestar pelo que vive e acredita. Gostaria sinceramente de ver este mesmo respeito por parte dos partidários mais fanáticos destas causas. Simplesmente por uma questão de coerência.
Aprendi com meus pais a respeitar as regras das casas nas quais estou como convidado. Se um país, por sua cultura e tradições, não está preparado ainda para certos avanços; se uma atleta educada neste país também não está preparada para absorver esta causa, me parece extremamente exagerada a repercussão e condenação que se dá a esta opinião. Ou ela não tem, mesmo que fosse a única pessoa na face da terra, o direito de pensar diferente? É assim que as antigas minorias pretendem tratar as futuras? Da mesma forma violenta, arrogante, desrespeitosa e preconceituosa como foram tratadas? Me parece um modo perigoso e hipócrita de conduzir as coisas.
Isso tudo em faz refletir em como lidamos mal com o poder. 
Hipoteticamente, nos coloquemos na seguinte situação: perdidos numa floresta tropical inóspita, somos acolhidos por uma tribo cujos costumes são revoltantes para nosso pensar contemporâneo. Mulheres sofrem agressões de seus maridos, filhos são agredidos pelos pais, os mais velhos são largados à sua própria sorte... Mas somos minoria e podemos sofrer duras penalidades se nos confrontarmos com tais tradições. Quantos morreriam pela causa? 
Contrapondo este radical exemplo, hoje vivemos a escravidão do politicamente correto e da cartilha midiática. Os que se opõem a este regime já são minoria. E é inaceitavelmente violenta a forma como são desrespeitados no seu direito mais elementar: o de defenderem o que pensam.
Os que foram, são ou serão minoria têm uma responsabilidade grande nesta história: o de compreender que pensar diferente não é crime e que, por terem sido vítimas de violência por esta razão, está em suas mãos mostrar ao mundo que é possível respeitar e compreender o outro, mesmo discordando de cada vírgula da sua fala.
Se queremos um mundo melhor, não façamos com os outros o que não aceitamos que façam conosco. Vamos saltar a altura de nossas diferenças e aterrissar em colchão macio para todos: o do respeito à liberdade de expressão.  

Neste ponto, peço licença de citar um grande exemplo de respeito e humildade: a declaração do Papa Francisco sobre os gays. Líder de uma instituição que há anos se opõe ao homossexualismo, o Papa teve a grandeza de perceber e declarar o que há de mais importante neste contexto: " quem sou eu para julgar alguém?"

Quem somos nós?

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