terça-feira, 21 de agosto de 2012

Reflexões sobre movimentos


Daqui do meu lugar na platéia, gostaria de parabenizar os criadores e mantenedores de "A Salvador que o Google viu". Pela primeira vez optei por observar ao invés de agir e me unir a mais esta iniciativa para a conscientização de uma cidade. Não se trata de desânimo ou descrença, mas de estratégia mesmo! Resolvi simplesmente não me envolver desta vez. Mas tenho acompanhado cada um que posta uma foto, faz um comentário, denuncia uma situação. Tenho acompanhado o admirável esforço dos seus criadores idealistas em não perder o foco, em manter o objetivo traçado. Não foram poucas as vezes que, embora sempre torcendo a favor, pensei comigo mesmo: será que diante deste comentário eles vão perseverar? Será que agora desistem? E vocês continuaram! Firmes, fortes, intensos! Vocês merecem palmas, de pé!
Não é fácil defender e sustentar uma proposta de coletividade num lugar cuja cultura é absolutamente individualista! Na terra da "farinha pouca, meu pirão primeiro" ver gente jovem, mostrando o rosto, denunciando, trazendo à sociedade baiana o desafio de pensar e repensar esta situação insustentável que a Soterópolis vivencia é digno de prêmio! Ver profissionais de diversas áreas se unindo, sem interesses pessoais além do bem comum é muito bonito de se ver! A geração de vocês deve se orgulhar deste movimento que, de uma forma ou de outra, já entrou para a história. Mais do que nunca fico feliz com a escolha que fiz de não ter entrado no grupo ou participado dele, embora tenha recebido vários convites neste sentido, de amigos que ajudaram a criar ou se engajaram depois. Daqui da platéia, não sendo parte do grupo, minha opinião e meu elogio são muito mais independentes e, por isso mesmo, mais legítimos!
Chico, Léo, Pedro, Adriano e todos os outros e outras que se juntaram a "Salvador que o Google viu", insistam! Vocês estão mostrando a ponta do iceberg. Esta fachada de uma cidade abandonada abre as portas e escancara as janelas de uma sociedade em ruínas que, até bem pouco tempo, procurava viver de aparências. No terreno público o turismo ainda acredita na lenda do pitoresco para se manter. Até quando? Será mesmo que os turistas ainda acham pitoresco o odor de urina exalando pelos becos e pelos calçadões da cidade? O coronelismo simplesmente mudou de mãos e, em alguns casos, nem de mãos mudou, só substituiram os sócios em negócios que continuam rolando há décadas. No campo privado, as empresas que não foram abertas exclusivamente com o intuito de lavar dinheiro sujo, passam por grandes dificuldades, sem poder de competitividade, seja em seus serviços, seus produtos ou seu atendimento. Salvador está léguas atrás das outras capitais nordestinas. Visitem Recife, Maceió e Aracajú, só para citar as mais próximas. Diversas iniciativas provadas louváveis que, em qualquer lugar do mundo seriam "adotadas" como patrimônios de uma cidade, aqui estão entregues à própria sorte, não recebem nenhum incentivo e, por isso mesmo, estão fechando suas portas e preparando a mudança.
A "Salvador que o Google viu" não expõe somente o que está aí, saltando aos olhos. Expõe o resultado de anos e anos de descaso e abandono com a educação, com a cultura, com a segurança, com a saúde, com os filhos de uma terra abençoada em sua natureza. A "Roma Negra", no auge do seu declínio moral e estrutural, pede penico! E "A Salvador que o Google viu" é uma voz autêntica para exprimir este lamento! É cheia de sentimento de filhos desta terra que só querem que ela volte a ser bela e feliz! Tristes dos filhos que não desejam isso para a própria mãe! Embora não seja nascido aqui, mas sou filho de baianos soteropolitanos, minha alma se solidariza a este movimento com muita intensidade, verdade e respeito. Não, não sou candidato a nada. No máximo a me sentir baiano. A me sentir mais um filho indignado com o estado em que a mãe Bahia se encontra. Nenhum discurso partidário. Apenas uma constatação: desde que cheguei aqui, em 1974, não vejo um movimento tão coletivo como este!
Chega de pensar isoladamente, nos próprios interesses e paixões. Isso sempre resulta em CAOS!
Caos é o nome desta cidade, atualmente. Cabe à coletividade transformar isso. Este é o compromisso!
Esta é a luta, diária, persistente, íntegra! Na rinha louca, Léo Pirão Guerreiro, Pedro Valente, Dó, ré, mi , fá, sol, lá, Chicó, o Maestro Adriano e toda a equipe me permitam esta homenagem e este agradecimento pelo movimento que apaixonadamente tem trazido luz e esperança a pelo menos 4% da populaão desta terra. Desejo que este movimento contagie, como uma coreografia ou uma canção de axé. Que ele Chame Gente pra gente voltar a chamar de alegria este estado que chamamos Bahia!

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