quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nadando contra a maré,,,,




Peço licença, senhoras e senhores, para iniciar este texto invocando e parafraseando John Lennon e pedindo a cada um que se dignar a ler este texto para exercitar a nossa incrível capacidade de simplesmente imaginar, independente de gosto, credo, fanatismo, idéia formada, conceito, enfim, seja lá o que for. Apenas tentemos imaginar...
Imagine que esta greve da PM se estenda e, este ano, Salvador não tenha Carnaval...
Sei que é difícil, mas faça um esforço...
Sei que é cultural, faz parte do nosso calendário, já virou ritual, mas, mesmo assim, imagine a avenida vazia, a barra deserta, o pelourinho sem ninguém, as arquibancadas do Campo Grande em silêncio, nenhum trio nas ruas, nem sequer uma bandinha chupa-catarro, nenhum bloco, nenhum turista, nenhum artista, nenhum cordeiro, nenhum folião...
Um carnaval de cinzas, todos reféns de uma situação...
Imagine o vazio no coração...
Os dias passando e as pessoas simplesmente descansando em casa e pensando: por quê?
Por que nos habituamos a abrir o ano, de fato, na Bahia, quase dois meses depois do Réveillon?
Por que esta festa se tornou tão importante? Às vezes mais importante que nossa consciência social, que a educação, que a saúde, que a higiene, que o respeito à lei, que o pensamento coletivo, que o trabalho, que a religião...
Vai, imagine...
Se não houvesse carnaval este ano em Salvador, o mundo acabaria? 
A cidade seria destruída(mais do que já está)?
Ou teríamos que resgatar nosso talento e nossa ginga pra nos reinventar como povo, como cidadãos, como gente e, por que não, até como foliões?
Imagina o quanto teríamos que nos desapegar e o tamanho do nosso desafio para fazer diferente, transformando o modelo que está aí e mudando a forma, sem mudar a essência de alegria que contagia todo o país...
Imagina a fantástica oportunidade que teríamos de reconstruir nosso tempo, transformando Salvador num templo muito mais cuidado, freqüentado e amado, ampliado em seus horizontes, em seu pensar, em seu viver!
Aprendi desde cedo que não devemos cometer o erro de apostar todas as nossas fichas em um só cliente, por mais poderoso que ele possa ser. Quando isso acontece, se um dia ele deixa de existir ou, por alguma razão, as coisas mudam, a tendência é tudo ruir...
Assim vejo nossa Salvador de hoje. Presa, acorrentada ao pensamento de que depende do Carnaval e do “axé” para ser conhecida e reconhecida... Nos apegamos de tal forma à indústria do beijo e ao teatro do trio que nos esquecemos das coisas mais essenciais, como dar passagem a alguém, falar bom dia ao entrar no elevador, respeitar o direito e o espaço do outro, cuidar de nossas ruas, de nossa gente, de nosso futuro...
Não chegamos a esta situação por acaso. Não!!!
Vivemos diariamente este impasse, tão bem representado agora pela greve da PM.
Vivemos a irrealidade diária. A realidade cênica...
Os carrões importados que circulam pelas avenidas esburacadas sem pagar IPVA são carros alegóricos de um desfile de mau gosto...
Antes do carnaval todos os projetos param, esperando o bloco da folia e do prazer passar...
Depois do carnaval Salvador vira um imenso bloco de indiferença, mediocridade, corrupção e mesmice, com suas veias e vias repetidamente picadas pelas drogas do conformismo e da aceitação...
Por que? Você já parou pra imaginar?
Há séculos a Bahia tem exportado para o Brasil e para o mundo gente que pensa, que faz arte, que cria, que inova, que escreve, que produz, que transforma. Profissionais de todos os setores são destaque onde quer que estejam.Baianos, bem sucedidos em várias partes do mundo, enquanto a Bahia se esvazia e definha, parada no tempo, atada aos grilhões de um “pitoresco” que já foi seu diferencial, mas que hoje em dia fede, não é nada natural, cheira a excremento. Só que, atualmente, o turista percebe, não acha mais legal...
Então imagine, nem que seja por um segundo, o que a falta de um carnaval poderia trazer de positivo a esta terra e a este povo, tão abençoados...
Liberdade...
Evolução...
Revolução no pensar a cidade, no querer bem à cidade, no viver Salvador!
Chega de omissão! Chega dos mesmos grupos sugando e só pensando em seu lucro, sem devolver nada à comunidade...
É nosso dever e nosso direito pensar diferente...
Não é possível que um baiano verdadeiro possa estar feliz com a Bahia de hoje... 
Infelizmente não posso ter orgulho de ser baiano...
Por um destes acasos, eu não nasci aqui!
Mas as raízes de pais baianos, esposa e filha baianas me fazem amar muito esta terra e enxergar tudo o que ela poderia ser se, por um momento, seu povo parasse para se repensar...
Imagine...
Há milhares de soluções pelo ar, esperando ser descobertas, como as estrelas...
Imagine..
Mais atrações, mais zelo, mais auto-estima, mais cuidado, mais educação, mais alegria, mais organização, mais ordem, mais progresso, mais sensibilidade, mais gentileza, mais coletividade...
Imagine, vai, você consegue!
Que tipo de carnaval não faríamos, diariamente, com motivos pra nos orgulhar e nos alegrar com esta terra...
Imagine...
Não sou o único sonhador...
Apenas imagine...
Se junte a mim, se junte a todos que querem uma Bahia melhor...
Realizar se torna muito mais fácil quando conseguimos, pelo menos, imaginar!

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