quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Éramos seis, não o livro...




Não, não era uma sessão espírita.
Não, também não era o set de filmagem do filme nosso lar.
Não, não era outro episódio do Ghostbusters...
Sim, éramos cinco numa saleta onde deveriam caber, no máximo, duas pessoas e estávamos no limiar de nossas forças quando, de repente, não mais que de repente, descobrimos que, na verdade, éramos seis...
Não, não se trata do romance escrito por Maria José Dupré, pelos idos anos 40...
Éramos cinco alucinados tentando terminar a edição de um filme, varando a madrugada, desafiando nossos próprios limites físicos, mentais e espirituais, quando uma presença inquietante começou a nos perseguir...
Era Emerson...
Alguém de quem quatro dos cinco ali presentes nunca soubera sequer da existência e que, subitamente, surgia em nossas vidas tomando as mais diversas formas que a imaginação de quatro mentes desgastadas conseguiam construir...
Emerson...
Uma “emersão” que “nem Osíris sabe como aconteceu”...
Antes de mais nada, Emerson era uma grande dúvida...
Seria mito? Seria um amigo imaginário de uma menina desnutrida nos desvarios de seus dezenove anos? Teria sido uma miragem? Um sonho juvenil?
Não, um de nós teimava, relutava, insistia que provaria a existência daquele ser...
Emerson tinha uma história: Havia namorado sua irmã, tinha sido quase seu cunhado, foi casado com uma dançarina de axé...
Emerson tinha um currículo: era jogador de futebol, havia jogado nos dois maiores times da cidade, depois em um dos grandes times do país, depois no Japão...
Emerson tinha também uma descrição: era alto, bonito, dentuço, branco, cabelo liso.
Mas ninguém ali, além da dita cunhada, se lembrava dele...
Recorremos ao Google... Emerson não existia por lá...
Aprofundamos as buscas, fomos aos sites dos times citados... Nada de Emerson...
Ainda havia uma esperança: Milton Neves, “que fim levou” Emerson... Nada...
Vasculhamos nas nossas memórias todos os “Emersons” possíveis...
Goleiros, jogadores de seleção, até Fittipaldi entrou na lista...
Não, não era nenhum deles...
Começamos a ficar realmente preocupados...
Aquilo começou a nos incomodar, a nos torturar, de tal forma que a presença do tal ser era a mais sentida naquele espaço...
Seria aquilo apenas uma alucinação causada pelo apetite voraz de nossa algoz?
Emerson poderia ser apenas a materialização de um petisco, uma refeição, quem sabe uma sobremesa...
Se o tal Emerson existia mesmo, havia evaporado de todos os anais do conhecimento humano e aquilo já estava se tornando um exercício insano, interferindo na edição do filme...
Alguns já teletransportavam a figura de Emerson para o computador, misturando o corpo de Shrek, com os dentes de Ratatouie, o rosto de Susan Boyle, os cabelos de Hulk e o azar do esquálido esquílo perseguidor da noz dos inícios da saga A Era do Gelo...
Emerson começou a ficar denso... Começou a pesar naquela ilha de edição... As irmãs daquela que havia libertado aquele ente, incluindo a que teria sido a sua namorada, não respondiam aos torpedos e ligações do celular. O próprio marido dela não se lembrava da tal criatura...
O editor, coitado, perdido entre informações importantes a serem inseridas no filme e as mais infames piadas relacionadas ao tal personagem, fazia um esforço sobre-humano para se concentrar...
Entre lágrimas e sorrisos a palavra Emerson ia e voltava, pairava no ar, desafiava a todos, causava inclusive muita admiração na sua “médium” pelos outros participantes daquela quase sessão espiritual não se lembrarem, sendo que eram torcedores dos times onde ele havia atuado...
Era tudo muito estranho...
Uma atmosfera diferente no ar...
Um filme pra finalizar e uma busca sem fim, nos confins de memórias reais e virtuais...
Ops talvez fosse isso... Emerson seria um avatar?
Aquela agonia já estava para matar um quando a edição do filme chegou a termo...
E no ermo da madrugada, cada um seguindo seu destino, todos ainda assombrados por aquela presença...
Seria aquela falta de resposta uma sentença?
Nunca saberíamos a verdade?
Reza a lenda que alguns nem dormiram de tanta ansiedade...
Teve gente pensando em mudar o nome pra Alfredo...
Teve gente realmente com medo...
Teve gente achando que aquilo tudo morreria em segredo...
Mas como a voz do povo é a voz de Deus, depois da escuridão sempre se faz a luz e a vingança é um prato que se come frio. Então, acordamos todos os cinco (ou seriam de fato seis?) com o e-mail da pseudo médium faminta, com a foto, o histórico, enfim, as provas definitivas de que Emerson realmente existe!
Caso encerrado?
Talvez, para alguns...
Para mim, que não reconheci de jeito nenhum a tal criatura como ex jogador de meu time, o nome Emerson continuará a flutuar no purgatório das lembranças, como um mistério indissolúvel...
Emerson entrou para o livro das criaturas misteriosas. Figura agora entre o monstro de Loch Ness, o Abominável homem das neves, o Yeti, Griffos, Duendes, Dragões, Elfos, Fadas, Sereias, Curupiras, Sacis, Cucas, Iaras e outros seres...
E aquela noite de terça, em plena garoa, entrará em nossas histórias como uma fatia inesquecível do tempo...
Fomos cinco em um ambiente e, de repente, éramos seis...
Como diria um personagem de alguma novela que também já não lembro:
- Mistério!!!!
Aos meus companheiros de jornada meu reconhecimento pelo esforço, pela determinação, pela resiliência!
Enfim, Emerson live! Emerson forever!
To be or not to be? That´s the question….
Believe or not?

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