sexta-feira, 15 de março de 2019

Se pôr em Salva dor




Entre tantos que a veneram quando você fervilha, na erupção de seu momesco cio, prefiro me encantar com a calmaria diária de seu por do sol vadio, pura maravilha, transformando o horizonte num afresco, seu Atlântico em rio...... Reduzir Salvador a um destino carnavalesco, longe de soar pitoresco, me parece tão vazio...Há tanta ouro em sua cultura, em sua história, em sua miscigenação, em sua gente... Tanta coisa que brilha mais do que a repetição de seus carnavais sem infra-estrutura... Indiferente aos esquecidos sociais... Há tanto mais que seguir automaticamente o trio... Há muito mais profundidade na maré vazia dos outros meses sem folia, muito mais motivo de alegria, do que a celebração da embriaguez e da violência, fuga em detrimento da paz...Há tanto mais em seu poente...O tom incandescente de seus "ais"... O grito sufocado de uma cidade que guarda a dor, onde um povo inebriado salva dor diante do circo, num "mico-leão-dourado, esperando um outro ciclo pra quem sabe um dia entender que coletivo não é estar imprensado, mas dignamente vivo e plenamente respeitado...Seu por do sol dourado e a silhueta de seu elevador nos fazem um chamado: Amar mais Salvador...Amar mais suas belezas, suas verdadeiras riquezas, sua natureza real..Amar e trabalhar para que seu dia a dia seja menos desigual... Que haja menos pobreza...sobretudo na mentalidade excludente, hipócrita e preconceituosa de sua "elite social"...Chega de pensar no singular uma cidade que é tão plural... A  multidão é o grande templo da nobreza, a grande escola da educação, o melhor palco da indignação e da transformação da consciência, não tem ciência, é só ter foco e manter a direção... O resto é mais do mesmo, é o velho jogo do circo e do pão... Gladiadores disfarçados de artistas, bigas transformadas em caminhões, centuriões transformados em cordeiros, diante dos camarotes dos Césares de plantão...Uma cidade a se pôr...A se expor... A propagar sua dor...Sem sair do lugar...Nos circuitos fechados de seu desamor, cidadãos congraçam sem procurar culpados, plenamente realizados no seu torpor...Depois da quarta, sempre o mesmo resultado...Que o turista parta, levando em suas narinas o ardido perfume das urinas...E que ele volte um dia, ou não, pra reverenciar a folia e, também ele, mijar no chão...No pós carnaval das viroses infalíveis, sempre uma constatação: a proliferação da mais contagiante epidemia: a falta de educação! Entre tantos que veneram sua poluição, sua vocação para a distração, prefiro ser feliz com a alegria de meu coração ao transformar em poesia este "se pôr" em Salvador... Certamente alguns dirão ser ranhetice, outros acharão uma chatice, centenas tacharão de idiotice, milhares sequer lerão... Nada que me cause estranheza...Esquisitice, pra mim, é ficar de plantão para repetir, anualmente, a experiência da involução...No elevador da consciência, prefiro me colocar em outra direção...E celebrar o pão de cada dia, o sol de todo dia, a luz de uma poesia, o tom de uma canção!

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