segunda-feira, 22 de abril de 2013

O maravilhoso circo Soterópolis




Depois de algum tempo (um bom tempo) afastados de aglomerações na cidade, eis que eu e minha
digníssima ouvimos falar de um show imperdível que iria haver no Farol da Barra, em pleno apogeu vespertino de um domingo de Abril! Melhor ainda. Um show só com músicas de Tom Jobim, interpretadas por Vanessa da Mata.
Estando perto do evento e conhecendo o movimento, percebemos que não só a pouca quantidade de
carros, como o próprio mot do evento, sinalizavam para algo com menor densidade populacional do que,
por exemplo, uma apresentação de qualquer musa do axé.
Apostando nisso, nos motivamos a comparecer junto com alguns de seus irmãos, prestigiando uma iniciativa
bastante rara por estas bandas: um show de bossa nova!
Decidimos ir a pé mesmo, já que estávamos na vizinhança do show e, em número de cinco, partimos para
curtir uma tarde inesquecível! Já no caminho, no entanto, o movimento de pedestres como nós indicava que o evento não iria ser, assim, tão tranquilo como pensávamos. Muita gente se dirigindo para o local do show e nós ali, no meio daquele rio humano, ouvindo os comentários e diálogos mais incríveis de uma galera absurdamente eclética e desavisada.
Um destes diálogos, em especial, me chamou a atenção, me causando espécie:
- Será que ela (Vanessa da Mata) vai cantar Boa Sorte? Adooooro!
- Acho que não. O show é só com músicas de um tal de Tom Joim.
- E é? Mas ela deve cantar uma músicas dela, "num" é?
- Disse que não, que só são 20 músicas deste carinha...
- Porra, sacanagem...
Daquele diálogo em diante percebi que o buraco era mais embaixo, o que se confirmou poucos metros adiante quando antes mesmo de chegar no largo do Farol, uma multidão já impedia o acesso a qualquer lugar de onde se pudesse ver, com alguma decência, os músicos e a artista no palco.
Depois de enfrentar alguns "expremes" daqui, outros acolá, conseguimos, em fila indiana, chegar num ponto onde já se conseguiria enxergar a Vanessa. É bem verdade que entre capacetes de policiais que se encontravam numa espécie de mini-torre de observação e controle que muito em lembraram filmes sobre campos de concentração e guerra.
Instalados ali vimos o início do show com certa tranquilidade, curtindo meia dúzia de músicas, até que o aperto começou a complicar qualquer possibilidade de nos mantermos ali. No meio daquele caos, bem ao nosso lado, alguns pais se arvoravam a colocar os filhos sobre os ombros, para tentar lhes proporcionar alguma visão do palco. Ameaça de ataque infantil vindo de cima, a qualquer escorregão dos heróicos progenitores.à nossa volta, o pessoal que não queria ver o show parecia escolher a gente pra fazer de passagem e tome empurrão, pisada no pé, mais gente chegando e a coisa complicando, até o ponto de ser impossível qualquer mexer de braço, com tendências reais de incapacidade respiratória a qualquer momento. Alguém com qualquer inclinação claustrofóbica já teria sido acometido de um ataque ou enfartado muito antes do momento e do local onde nos encontrávamos. Resultado? A maioria decidiu sair daquele lugar antes que a coisa complicasse de vez!
Mas o show estava excelente. Não iríamos desistir assim!Tentamos então ir pela outra rua que, para nossa verdadeira surpresa, realmente se encontrava mais habitável.
Ali, após passarmos por uma central de distribuição de chapéus panamás de EVA com o merchan do patrocinador do evento, ganharmos garrafinhas de água mineral com a logo do show, também encontramos um lugar onde era possível ver bem o palco, muito mais folgados e confortáveis do que no ponto anterior. Vento no rosto, palco à vista, telões bem visíveis, conseguimos, enfim, relaxar.
Embora ali o som não fosse o ideal, diria mesmo que estava um pouco baixo, conseguimos curtir o show até o final sem maiores ocorrências. Bom, para não faltar com a verdade, à nossa volta, eram pouquíssimas as pessoas que, de fato, estavam ali assistindo ou cantando as músicas do grande maestro brasileiro...
Com o som mais baixo, escutávamos de um lado uma discussão sobre a situação do Bahia e do Vitória no campeonato estadual; do outro lado uma D.R. interminável entre duas criaturas abafava ainda mais o doce som de Tom. Na frente, uma galera combinava "qualeradimesmo" da noite... Na retaguarda alguém ainda questionava se Vanessa não ia cantar "Ainda bem",  "Amado" e "Não me deixe só"... Vontade tive eu de gritar para me deixarem só, ali, curtindo meu show! Ainda bem que tudo terminou em paz e, no final das contas, além de um excelente repertório com interpretações impecáveis, muito afinadas e extremamente bem sacadas, valeu muito a pena aquela aventura, principalmente pela companhia!
Voltando a pé para casa chegamos à conclusão que, em Salvador, talvez pela escassez de pão, talvez pela grande oferta de circo, se for de graça pode chamar o "coral de mudinhos" acompanhado pela "orquestra de surdos" pra se apresentar, que vai rolar a festa e vai virar muvuca!
É o "maravilhoso circo" da Soterópolis onde, até sem nenhuma atração, a platéia é quem dá seu show!

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