terça-feira, 13 de setembro de 2011

Discurso no saguão azul





Senhoras e senhores
presentes no imenso
saguão azul do planeta
proponho um brinde
aos que ficaram de fora
(alguém pode acender
uma vela ou um incenso?)
Não, não é pra celebrar
os euros e dólares
guardados na gaveta,
nem as milhões de toneladas
que apodrecem em nossos lixos
 O brinde é à nossa capacidade
de destruição.
Destruímos o próximo,
destruímos o ambiente,
destruímos a nós mesmos
e continuamos seguindo,
poluindo, consumindo,
extinguindo...
Não é lindo?
No centro do picadeiro
que montamos...
A África agoniza de fome...
A África agoniza de peste...
Árabes, judeus e americanos
chineses, croatas e coreanos
paquistaneses, afegãos e indianos
agonizam entre guerras...
E o resto do mundo
se reúne, discute, come, bebe,
trepa, e segue esperando,
agonizando em vida,
esperando a morte chegar...
Um mundo pasteurizado
vê maravilhado
continentes digitais surgirem
e se afundarem
entre tsunamis de lançamentos
eletrônicos
enquanto e-mails são trocados
mensagens deixadas
torpedos enviados
sem nenhum conteúdo inovador
sem nenhum conteúdo ideológico
apenas a repetição
de um problema crônico:
E daí? Não é comigo...
E cada um segue sua vida
de olho no próprio umbigo...
Não, não aprendemos nada!
Nenhuma lição sobre coletividade!
Tudo se resume ao aqui e agora,
aos passos que damos em nossas
próprias estradas...
Não há margens, não há paisagens,
aqui e ali, uma ou outra miragem,
provavelmente virtual
e, na bagagem, quilos e quilos
de superficialidade...
O mundo nunca esteve tão frio
e, ao mesmo tempo, tão aberto...
Respeito e diversidade
são palavras do momento,
mas palavras, só palavras,
necessariamente não carregam
em si sentimentos...
Entre manifestações e paradas,
a idéia que fica, de verdade,
é que ninguém está nem aí...
O lance é se divertir,
curtir o momento
e seguir...
Senhoras e senhores,
um minuto de silêncio,
o tapete azul
está ficando vermelho,
por favor, alguém aí ainda sonha?
Que tal olharmos pro espelho
e, combinando com o tapete,
enrubescermos de vergonha?

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