sábado, 13 de agosto de 2011

As “mozelas” de uma tartaruga perdida




Seguindo nosso agradável diário de bordo da Viagem Serrana, pedindo desculpas pelo atraso no post, ao chegar na casa de nossos anfitriões foi encanto à primeira vista. O lugar lindo, a vista deslumbrante, a arquitetura impecável, enfim, uma casa lapidada como um diamante e transformada em um lar acolhedor, agradável, confortável, maravilhoso.
Ambiente e clima perfeitos, com direito a lareira e gastronomia de primeira (mas isso é uma capítulo à parte, aguardem a parte 3), era a hora de vestirmos nossos trajes e nos transformarmos em turistas legítimos. Partimos para as compras na inesquecível feirinha de Itaipava. Lá, uma grande sacada: a feira possui uns banquinhos estratégicos para os homens aguardarem suas esposas exercerem seu inquestionável talento de escolher e comprar souvenirs, saboreando um delicioso “pastels com chopps”. Resultado: as malas dos carros se encheram de sacolas, naturalmente...
Depois voltamos ao castelo de Sant’ângela e Frei Beto, onde conhecemos as gerações herdeiras de tanta simpatia e bom astral. Um almoço maravilhoso, no qual pudemos nos deliciar, entre uma e outra gostosura gastronômica, com vários “goooooools de pedrinhas” de Pedrinho, o lindo neto dos dois.
Fortes emoções nos aguardavam depois do almoço. Uma visita até o museu imperial, onde exercitamos nossas habilidades de “enceradores patinistas”, seguida de uma inesquecível oportunidade de participar de um Sarau com a Princesa Isabel e seus convidados. Destaque para a emoção de Tia Chika e Sant’Ângela na declamação de “Minha terra tem Palmeiras onde canta o Sabiá”. Soubemos depois que Dr. Rômulo costumava declamar o mesmo poema e entendemos, ainda mais, o motivo das lágrimas abençoadas que escorreram por suas faces. No momento, todos se emocionaram, até a Princesa Isabel. Tudo registrado por Victor, filmado e arquivado e que vale a pena ser visto, pois foi um momento único, de verdade.
Bom, pra quebrar o clima, um mico, ou melhor, um Kong: este que vos escreve, completamente sem graça, tentando declamar uma poesia em letras microscópicas, em legítimo português de Portugal, de um jornal da época, com direito a ‘himnos”, para delírio e diversão de todos. E ainda ladeado pela Princesa Isabel e pela Condessa de Barral... “Que situação!!!!” Aliás, sobre esta Condessa, preceptora das princesas Isabel e Leopoldina, que soubemos mais tarde, à boca pequena, por umas fofoqueiras imperiais, ter sido amante e grande paixão do próprio imperador, descobri que era baiana, nascida Luísa Margarida de Barros Portugal, em Santo Amaro da Purificação, em 13 de abril de 1816 e falecida na França em janeiro de 1891. Depois de Condessa se transformou em Marquesa de Monferrat. era uma das mais vivazes figuras da corte do rei Luís Filipe I da França. Pense: Papo Inverso também é cultura!!!! Hoje, uma de suas propriedades foi adquirida pelo “Barão Luís Leal”, genro de Gagarin e Francisca Valentina. Eita mundo pequeno... Barros Portugal se transformou em Barral. Aliás, nome bem sugestivo para uma certa epopéia intestinal ocorrida com um dos membros de nossa comitiva, logo após o Sarau. Mas isto é outra história!
Bom, depois do Sarau, uma belíssima apresentação chamada Som e Luz nos jardins do palácio, com direito a projeção na água, no melhor estilo Disney, que nos acrescentou bastante sobre certos detalhes da nossa história pré-republicana. Um show que nos faz valorizar um pouco mais o amor demonstrado pela família real a esta terra. Um amor patriótico que muitas vezes falta aos “filhos desta mãe gentil”. O espetáculo terminou lá pelas 21 e 30. Cabia a nós voltar, pois um fondue delicioso nos aguardava.
Cheios de disposição e coragem, intrépidos aventureiros,, munidos de uma guia quase do quilate da Condessa de Barral, a nossa “dama de companhia” Miss Helga de GPS, batizada “carinhosamente” como “A Vadia” por Tia Chika, conseguimos acomodar seis passageiros num classic sedam 1000, apelidado com propriedade por Frei Beto de tartaruga. As quatro mulheres atrás, coitadas, pareciam sardinhas expremidas numa latinha. Mesmo assim, partimos rumo ao “pedaço de paraíso” onde estávamos hospedados. Chegaríamos lá em 20 minutos com a ajuda da tecnologia e do satélite, elas aguentariam... Doce ilusão...
Não é que, para evitar um minúsculo trecho não asfaltado, “Miss Helga”(apelido do GPS de Victor e Nanda desde os tempos de Disney) nos levou por um caminho, subindo a montanha, que passava por Mozela, um ermo com cara de desova, que a cada quilômetro parecia mais desabitado, deixando a todos apreensivos sobre aonde ia dar aquela aventura. Carcaças de carros abandonadas, matagais de ambos os lados, uma ou outra habitação aqui e ali e tome 20 minutos, meia hora e continuávamos a subir, sabendo que deveríamos estar descendo para chegar na rodovia. Suspense e expectativa por parte de uns, um clima de ansiedade geral no carro, um certo terror estampado nos olhos de Dora e Fernanda e lá íamos nós, rumo ao desconhecido, indo aonde nenhum soteropolitano jamais esteve, em plena noite serrana, conduzidos por uma “vadia eletrônica”, sem a menor idéia de onde estávamos. O tempo passava e as sardinhas tentando se moldar àquele aperto. De repente, duas criaturas suspeitas apareceram depois de uma curva e o que era preocupação virou desespero Houve quem visse até armas nas mãos dos anônimos pseudo-malfeitores. E se houvesse perseguição, a tartaruga seria alcançada rapidamente, estaríamos em clara desvantagem. Um Pai Nosso foi puxado por alguém, de forma inspirada, e antes que terminássemos a oração, não é que começamos a descer e logo depois estávamos na rodovia, já sabendo exatamente onde nos encontrávamos e, finalmente livres de nossas mazelas. Uma sensação de alívio tomou conta do carro e até o início de uma ladainha a Santo Haroldo foi ensaiado. Com todo merecimento.
De volta ao aconchego e à segurança do lar, um maravilhoso fondue nos esperava, regado a um delicioso vinho, o que reanimou rapidamente a todos. Confirmamos depois com Frei Beto que o lugar por onde passáramos não era nada recomendado, principalmente àquela hora. A sorte ou bênção foi justamente a tartaruga. O que poderia ter sido um grande problema, acabou por ser a salvação. Ai de nós se estivéssemos com um carrão. Bendita tartaruga alugada. E um lema para toda vida: “Sardinhas UNIDAS, jamais serão vencidas”

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