sexta-feira, 14 de maio de 2010

Os Contemplários



Quem são estes que contemplam a vida, na contra-mão da pressa e da ansiedade?
Estes que ainda acreditam naquelas velhas verdades de seus avós?
Acreditam no valor do velho, na sabedoria anciã, no valor de fazer o bem, sem olhar a quem...
Acreditam no respeito ao outro e à fé do outro. Seja ela Oriental ou Cristã...
Apostam na decência infantil e na inocência de um país jovem, perdido na sua adolescência aventureira, entre arroubos e roubos, erros descartáveis num futuro melhor...
Os Contemplários são os cavaleiros errantes do hoje, contemporâneos Quixotes de Cervantes,
com idéias de moinho contra cabeças de vento... São os arautos do amor!
São anônimos urbanos rurais, heróis viscerais, muitas vezes racionais, outras vezes insanos...
Participam de suas cruzadas sem medo da sorte. Olham e aprendem com os pássaros e os lírios. Não usam seu tempo para temer os fortes. Respeitam a morte como porta aberta, a única certa, entre tantos delírios...
Os Contemplários são os “neo-humanistas”, pacifistas de si. Brigam internamente com um mundo que pouco lhes diz. Combatem secretamente cada contradição humana, cigana arquitetura de uma raça. E até aí, conseguem encontrar a graça de ser feliz...
Os Contemplários são os guerreiros sem armas. Oferecem a face e lutam com palavras...
Usam argumentos como escudo. E coerência como espada.
São artistas conscientes, que recusam as palmas, não vendem suas convicções para alimentar seu ego. Morrem de fome e sede de justiça. Mas atuam para transformar pelo sorriso, ou pela lágrima. Desprezam a cobiça e a mesquinhez... Acreditam que chegará sua vez...
Os Contemplários são tolos, são bobos inocentes de uma corte sem lei. São os otários do mundo inconseqüente, palco de misérias e desmandos...
Contemplam-se nos olhos alheios, alheios a todo julgamento...
São emoção despida de alento, puro sentimento a pulsar.
Nas suas távolas pessoais, desabafam entre amigos. São e encontram abrigos, nas mãos que se fazem solidárias. Voluntárias artesãs de uma secreta irmandade, irmã da verdade.
Os Contemplários são vozes no silêncio, conceitos no espaço, ecos de passos nobres, seguindo uma direção sem volta. São contraventores da desordem e da avareza.
No meio do vazio e da escuridão, oferecem ajuda, sem esperar recompensa. Aí reside a beleza.
Os Contemplários são perdulários do perdão.
Contemple um destes estranhos passantes. Desculpem sua convicção. Descontem seus desvarios. Na maior parte do tempo sua voz é mansa...
Não se expõem como cavaleiros. Disfarçam-se de Sancho Pança...
Você pode conhecer vários deles, conviver com um ou dois...
Quem sabe até ser um daqueles que acreditam num depois...
Guarde suas imagens, suas palavras e atitudes, seus gestos, manifestos e canções...
Os Contemplários são humanos, não são máquinas, também erram, também ferem, também querem, também vão! São simples menestréis da virtude de buscar a virtude...
E antes que os Contemplários se transformem em meras lembranças ou miragens, que tal assumirmos um Deus que é nossa imagem e semelhança?
Fica bem mais fácil lutar contra o mundo que está aí, que estamos deixando de herança...
Este não pode vir Deus, nem como vingança...
Um brinde aos Contemplários!

Um comentário:

  1. Nos conforta o fato de haver rondando por ai alguns desses cavaleiros disfarçados nas esquinas de nossas vidas atuando como profissionais que sequer imaginamos existir, mas que, na hora em que são chamados a atuar respondem presente sem exigir retorno, agradecimentos ou recompensas.
    Vez por outra esbarramos nesses "seres celestiais" que renovam nossas esperança, nos conectando com o universo, como um fragmento estelar que risca o céu noturno deixando os poucos que conseguem vê-los, por meros e inesquecíveis segundos, extasiados e conectados com o Divino.
    Me junto ao brinde!

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