Vovô!
Quando te conheci com aquele vozeirão, fazendo um monte de prezepada e dando uns cortes que você sabia dar como ninguém, somente pra dar uma intimidada e se fazer respeitar, minha primeira impressão é de que a gente não ia se dar muito bem!
Mas na primeira brecha, eu te chamei de "Encrenquinha" de Tia Arilma e sua reação imediata, me mandando
praquele lugar, com a naturalidade de quem fala com um amigo de séculos, já me mostrou o coração generoso e a pessoa doce que se escondia por trás daquela máscara de encrenqueiro!
Daí pra frente foi só alegria! Muitas risadas, muitas conquistas, muita parceria na direção e produção do Chão e Paz. Muita amizade! Muito respeito! Muito aprendizado! De repente, a vida me presenteava com um mestre das artes cênicas, da televisão e do rádio! Quantas lições transmitidas gratuitamente, numa conversa despretensiosa, num bate-papo sem hora, num caso contado "en passant", na correria do dia a dia!
Juntos, com uma equipe maravilhosa (Bob Coelho, Dora Didier, Victor Serrano, Fernanda Prado, André Maia, Maurício Pereira, Sérgio Valente, Doris Villas Boas, Gerson, Amauri, Passos e Ivonete, Teca, Pat Neves, Eduardo Matedi, entre outros) meio que revolucionamos um programa no ar há duas décadas. Lá estiveram grandes nomes como Armandinho, Chiclete com Banana, Ademar Andrade, Dom Timóteo, Saja, Daniela Mercury, Marcos Frota, todos falando de Deus, da sua fé, dos seus momentos de oração. Lá também esteve uma menina desconhecida, de uma voz arrebatadora, que encantou a todos com seu talento e com sua simplicidade. Me lembro dela te pedindo um emprego de cabo-girl e voce respondendo:
-Menina, continue a cantar. Se você continuar assim não dou um ano pra vc estourar!
Dito e feito: menos de um ano depois a Bahia já aplaudia Ivete Sangalo como um grande sucesso!
Da mão na massa na hora de fazer o cenário à sensibilidade na hora de editar e dirigir o programa, você foi o grande condutor daquele sucesso!
Naquela época, pude descobrir naquele novo amigo um cara sensacional, talentoso, humilde, engraçado, muito profissional, muito humano! Um cristão sem frescuras, profundamente ligado às coisas do bem!
O tempo passou, a vida nos distanciou, mas sempre que nos encontrávamos, vovô e eu nos permitíamos um
farto abraço e uma dúzia de gargalhadas com lembranças deliciosas daquele tempo de Setor de Comunicação.
Uma das situações mais engraçadas que vivi com Meireles foi a inauguração do bar de um amigo comum,
que fomos juntos, no beco dos artistas. Estávamos na Rádio Excelsior, ali ao lado e descobrimos que iríamos pro mesmo local. Resultado: entramos juntos pelo beco. Os dois heteros, casados, pais de família, em pleno reduto gay na época, e ele se mostrou meio incomodado com os olhares pressupondo que éramos um casal. Vendo isso, comecei a brincar com ele, como se fossemos mesmo e meu "avô" me xingava "entre-dentes", completamente sem graça!
Depois veio a época de "Chico Botina", nas madrugadas da Excelsior! Quantas e quantas vezes eu não entrei ao vivo, falando com ele no ar, trocando umas idéias pelo telefone e, sempre, depois de conversar como personagem, ele colocava uma música e encarnava o papel principal dele, conversando in off comigo como o velho Meireles de sempre!
Pois é vovô, depois desta época, ainda nos encontramos várias vezes, na gráfica, no salesiano, na rua,
sempre fazendo festa, sempre fazendo fé!
Uma coisa que descobrimos em comum foi o fato de ambos sermos pessoas dos bastidores, avessas aos
holofotes e aos aplausos. Descoberta que nos irmanou e nos aproximou mais, por mais distantes que
estivéssemos.
Hoje recebo, por nosso irmão comum Coelho, a notícia de que você foi se encontrar com o Grande Diretor da Vida! Vai deixar saudade, cara! Uma grande saudade!
Mas tenho certeza que onde quer que você esteja, com certeza fugindo dos holofotes, você receberá uma merecida salva de palmas pela sua passagem por aqui!
Dia desses a gente se encontra, Vovô!
E o abraço terá a mesma fartura e bem querer de sempre!
Desta vez com sabor de eternidade!
Fica com Deus!