segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Mutirão Violeta



E de repente, depois de ver e ouvir o Amor se derramar naquela casa, através da linda partilha que tivemos pouco antes, fui ajudar um dos irmãos ali presentes a efetuar a troca da resistência de um chuveiro. Em determinado momento, alertei-o sobre uma aranha perto de sua cabeça.
Então, ele se virou e me perguntou trenamento, provavelmente ainda inebriado pelo doce perfume das palavras da nossa santinha:
- "Mas a gente não deve matar a aranha não, né?"
E, ato contínuo, afastou cuidadosamente a teia e continuou a trabalhar, dividindo harmonicamente, com aquele gesto, o espaço com a aranha e com o mundo...
Um dos muitos pequenos milagres vividos hoje no nosso Mutirão Violeta.
E, durante o resto do dia e da noite, eu só meditando sobre o quanto o mundo seria muito mais maravilhoso se todos nós fossemos contaminados com tamanho cuidado e amorosidade com toda a criação que nos cerca!
Embora repletos de boa vontade e disposição, diante da incontestável e, muitas vezes incompreensível, lógica dos Santos, quase não fizemos intervenções físicas na casa de Irmã Violeta, hoje...
Mas quantas intervenções espirituais tivemos a oportunidade de testemunhar e participar naqueles momentos em que conhecemos e coabitamos com sua dura e inspiradora realidade...
Ao nos confessar que, quando chegar ao céu, sonha abraçar o mau ladrão que, carinhosamente chama de "menino sem nome" ou mesmo Hitler que, corajosamente, faz questão de nos lembrar que é filho do mesmo Pai Nosso que está em todos, Violeta abriu os portais da Amorosidade divina, ampliando os horizontes da nossa miserável dimensão humana...
Minutos preciosos nos quais o Espírito soprou, silenciosa e profundamente, em cada um de nós, sacralizando o mistério de ser gente, imagem e semelhança do Pai!
Afinal, comungamos ou não a dor e o desespero da Paixão de Cristo, no choro e desabafo incontido e dilacerado daquela mãe, Ana Maria, nos relatando sobre a amputação do braço de seu filho num dos hospitais de nossa terra?
Comungamos ou não o ardor e a amorosidade em nossos corações, enquanto nossa anfitriã nos falava sobre o desafio diário de viver esta Paixão por Deus, tendo o conhecimento e a certeza de que, neste caminho, Amor e dor são vivências que andam de mãos dadas?
Comungamos ou não de uma verdadeira transfiguração da misericórdia, diante de nossos olhares molhados, enquanto o mundo lá fora era esquecido e o tempo, tal como o conhecemos, parecia não existir?
Que diferença, afinal, fizemos hoje para o mundo, com este nosso mutirão em família? Algo, de fato, realmente mudou?
Ao agradecer a Deus, no fim deste dia, por mais uma vez ter tido a graça de viver estes pequenos milagres, sou inspirado a responder que sim, fizemos uma enorme diferença, hoje, na vida daquela aranha, na vida daquela mãe, na vida de nossa Violetinha, na vida de nossos irmãos e irmãs que ali estiveram presentes em nome de nossa família!
Simplesmente por estar ali, unida, presente e pronta para servir, nossa família ofereceu, hoje, a quem passa o tempo inteiro alimentando os outros com seu Amor e sua misericórdia, pequenas, mas generosas porções de alimento espiritual!
Mas, como assim, nós alimentamos Violeta espiritualmente?
Não foi justamente o contrário?
Sim, foi também! Foi troca, foi multiplicação de pão vivo, foi partilha, foi comunhão!
Alimentamos Violeta com o pão da esperança, do cuidado, da presença, da certeza do apoio, do importar-se, do comprometer-se, do amar!
E saímos de lá saciados, com os corações e mentes conectados numa gostosa e cúmplice ebulição de soluções, ideias e intenções, compartilhadas em torno dos "altares", fraternalmente divididos, num recanto de lua cheia e numa sorveteria da Ribeira, onde nossa família celebrou a alegria de ser Igreja!
Vivemos e comungamos, de fato, neste dia uma obra de misericórdia!
E, ato contínuo, afastemos cuidadosamente as teias e continuemos a trabalhar, dividindo harmonicamente, com este gesto, o espaço com as aranhas, com os irmãos e com o mundo!
E que venham novos mutirões!



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