Onde há fumaça, há fogo, já dizia minha avó.
Lembro sempre deste ditado quando chega o período das festas de meio de ano e o "fog" junino pede licença pra dançar forró com a atmosfera. A fumaça vai ganhando um tom alaranjado ante de subir pra escuridão, camaleônica em suas cores, mimetizadas das fogueiras!
Aqui e ali os fogos pipocam e enchem de luz e cor o céu de São João...
Não sei se meu avô dizia. Se não, deveria ter dito: eta festa porreta! E no mais autêntico baianês!
Gente dançando, gente feliz, gente comendo e bebendo, brindando a vida, espelhando satisfação nos brilhantes olhos de licor!
De repente os arraiás familiares se desfazem e a dança, o entornar e a comilança dão lugar ao sono, que logo, logo, é o sol que vai "raiá"...
No retorno à urbanidade, começa a correria pra não pegar trânsito na volta, quem sabe apenas uma desculpa de quem quer chegar em casa pra ver o jogo do Bahia...
Carro arrumado, familia acomodada, começa a viagem rumo a Soterópolis. E, de repente, no meio do caminho havia uma blitz...É, havia uma blitz no meio do caminho...
Nada demais com que se preocupar. Carteira em dia, documento em dia, carro revisado, o que pode acontecer além de nos atrasar?
Eis que, de repente, percebo o guarda anotando alguma coisa antes de nos mandar passar...
Mas peraí, se não nos mandou parar, o que tinha para anotar?
Onde há fumaça, há fogo, já dizia minha avó...
Eu, mesmo preocupado com o horário do jogo, ouso arriscar a confusão. Resolvo parar e pergunto, entregando a Deus o que virá:
-"Seu guarda, desculpe perguntar, mas tem algum problema?"
Estranhamente tranquilo, o patrulheiro me responde:
-"Não cidadão, pode passar!"
Não me contenho e não me contentando com a resposta, disparo:
-"Mas o amigo não anotou alguma coisa?"
E recebo em troca a seguinte resposta do "homem da lei", acompanhada de um sorriso que beirava o auge do cinismo mesclado com o suprasumo da pilantragem:
-"Pode seguir tranquilo, que só estou anotando uns números pra fazer uma "fezinha no bicho" mais tarde!"
Onde há desgraça, há jogo, talvez minha avó dissesse...
Volto pra casa, já pensando em São Pedro, com esta "bomba de mil" na bagagem...
No país da contravenção, a lei aposta na sorte do jogo de azar!
Azar o meu, que quis perguntar...
Talvez o contraventor respondesse, pra se justificar, que do jeito que vão as coisas, até "os homi" tem que se virar...
Preciso me questionar: " Será que foi mesmo João Batista que perdeu a cabeça por causa da dança do ventre de Salomé? Ou quem perdeu a cabeça foi o Rei em pessoa?
No caminho de volta, vendo o sol se por por trás dos contornos de Salvador, ainda me pergunto se tudo isso aconteceu mesmo ou foi só um delírio de ressaca de licor...
Onde há fumaça, há fogo, já dizia minha avó!
Olhando estes tristes sinais de nossos dias, cada dia mais lhe dou razão!
Policial, bandido, cidadão, todo mundo dançando contente, formando uma enorme quadrilha que chamamos de nação...
E viva São João!
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