segunda-feira, 6 de junho de 2011

Continentes e ilhas virtuais




Você já deve ter escutado sobre o continente virtual, este imenso espaço cibernético no qual transitam, diariamente, bilhões de pessoas. Há quem já diga que é o continente mais habitado do planeta. Não sei se é fato, mas não dá mais pra dizer que é impossível, dá? Até o papa está antenado, preocupado com a evangelização nesta nova comunidade, nação, sei lá o que somos, os pobres mortais navegantes virtuais...
Nada mais justo ou previsível vindo do líder atual de uma igreja cujo fundador, Jesus Cristo, conclamou seus seguidores a serem pescadores de homens. Onde devem andar os pescadores? Navegando por aí... Fazendo o que? Lançando as redes... Ou será que, nas circunstâncias atuais, deveriam mesmo é se lançar nas redes?
Sinceramente, me preocupo menos com o continente virtual e, sim, com as ilhas em que nós, humanos ditos conectados, estamos nos transformando. De repente uma conversa deu lugar ao “bate-papo”, um encontro entre amigos deu lugar às postagens no MSN, um amigo “caralimpa”, cuja vida era um “livro aberto”, a gente só encontra no “facebook” e por aí vamos nós, entre o Orkut, o Twitter, o Digg, o Flicker, o Tumblr, procurando o nosso espaço, cada vez mais individualmente assumido, em alguns casos escancaradamente, como no “myspace”.
Estamos nos subtraindo o toque, o olho no olho, a temperatura, o estar. Estamos deixando de conviver para estar on-line e o tal “continente virtual” de repente se transforma num imenso arquipélago no centro de um oceano irreal...
Assim, abraços deram lugar a abçs, beijos deram lugar a bjs, adeus deu lugar a xau, você virou vc, num “resumão” assumido de pseudo-emoções arriscadamente traduzidas ou interpretas, porque não tem o tom emotivo de uma voz, a expressão de um rosto, o calor de um abraço, o gosto de um beijo, o sentimento de estar...
Calma, Geração Y, não jogue pedras, ainda. Nada contra a comunicação virtual. Sou usuário dela. Vejo grandes benefícios. Só não acredito e não entendo muito a troca. A mistura. A substituição. O que é real é real. O que é virtual é apenas virtual. “A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”. Não dá pra substituir uma coisa pela outra. Cada uma delas tem um peso, uma importância. E o que causa apreensão é a troca de valores. É deixar de viver a vida real para estar na virtual. É deixar de estar com alguém para se encontrar no MSN com este mesmo alguém, ou mesmo com outro alguém, como se a “novidade” virtual fosse mais interessante e importante que o milagre da vida...
Estamos na rede, fomos pescados, mas costumamos nos perguntar, por quem? Ou por quê? Estamos navegando, é verdade, mas Serpa que paramos para nos questionar para que?
Há tanto conteúdo interessante, mas tanto lixo também...
Há vírus, há riscos, há armadilhas, há pegadinhas, já há até crimes...
E uma pergunta que não quer calar é se, de fato, estamos navegando “mares nunca dantes navegados” ou afundando de vez nos mesmos pecados, ora disfarçados com ares de modernidade...
O continente virtual pode ser hoje o mais populoso do mundo. Uma multidão de gente isolada em suas telas, teclados e mouses. Com o mundo a um clique, mas perdendo a sensibilidade nas mãos...
O importante mesmo é “bombar” nos acessos! Ter seguidores, friends, comunidades... Adicionar gente, multiplicar contatos, dividir o tempo entre emails e posts, vídeos e sons, programas e provedores e, assim, ser reconhecido(a) como alguém antenado, ligado, conectado...
E assim, quase sem perceber, vamos nos desligando realmente do que importa, algemados pelo vício digital. Não vemos o tempo passar, não temos tempo de ver o filho crescer, não percebemos os pais envelhecerem, os amigos mudarem, os sonhos fugirem, as diferenças sumirem, porque elegemos padrões de comportamento sociais que beiram o intangível...
Será medo da decepção real ou fuga da dança da vida? Virtual dói menos. É facilmente substituível ou até reconquistado. Basta um “Ctrl Alt Del” ou um escluir, sem lágrimas nem choro, indolor, fácil! E aí, no melhor da era digital, talvez nos reste alguma consciência, um resto de racionalidade e um mínimo de sensibilidade para entender que, se tudo isso continuar sendo feito de forma autômata, brevemente estaremos nos lamentando por termos esquecido de fazer aquilo que continua sendo mais importante: viver!
Ame seu semelhante sobre todas as coisas...
O computador é uma coisa, as redes sociais são coisas.
Seus pais, avós, esposos(as), filhos(as), amigos(as), namorado(a), sua família, não são!
São gente de carne, osso e alma. Querem você, seu colo, seu carinho, sua palavra, sua presença, seu beijo, seu abraço, sua bênção!
Não importa em que continente você esteja. Sei que pode entender, porque escrevo para alguém que sente e que pensa, igual a mim...
Então, segue uma pequena, mas valiosa dica. Depois de ler esta mensagem, desligue o computador, procure seu próximo mais próximo e lhe ofereça o abraço mais acolhedor que você tiver guardado. Posso apostar que, no mundo virtual, você não experimentará nada sequer parecido com a sensação de estar livre para voltar a ser humano!
“Não somos máquinas, homens é que somos!”

Um comentário:

  1. Man gostei muito do texto. Concordo com você que o continente virtual é bom em termos, porém nos faz ver que cada vez mais o contato físico tão importante para que se inicie bons relacionamentos na vida, passe e ser feito apenas com um clique. A facilidade do não-contato, em que pode haver um constrangimento ou algo tipo é aqui facilitado, pois não estou vendo realmente sua reação, então posso te excluir ou falar algo que realmente doa sem ter a necessidade de ver sua reação. É a morte rápida e indolor e sem recentimento. Mas será que é tão fácil? Como você falou homens é o que somos e mesmo que sejamos mais virtuais atualmente do que reais, isso ainda dói, porém torna-se mais fácil de fazer. Daria até para escrever algo do tipo. Hehehe. Tenho pensado em algo relacionado ao medo, em todos os sentidos. Abç

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