quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Minha cidade



Eu continuo
tentando
te tentar
a gostar
dos meus apelos
urbanos
e minha
gente vulgar...

Eu continuo
na espera
a fila
sempre maior
o cheiro forte
de azeite,
mistura urina
e suor...

Eu continuo
nos guetos
em blocos
tão raciais
nos becos
e avenidas
nas convenções
sociais...

Eu continuo
na rede
e nos temperos
de cor
cerveja
é nome de sede
e sexo
o mesmo que amor...

Eu continuo
fagueira
entre santos
e orixás
no são João
sou fogueira
na sexta feira
sou paz...

Entre faróis
e buracos
entre anzóis
e auês
entre o gingado
e a crendice
entre o atabaque
e o dendê...

Eu continuo
na estrada
a mais idosa
ancestral
as minhas rugas
são juras
paralelo
candeal...

Eu continuo
na luta
entre o que falam
e o que sou
uma grande
prostituta
capaz de amar
sem pudor...

Eu continuo
levando
em mim
o nome do amor
balangandans,
fitas, figas
no misticismo
da dor...

Eu continuo
tão suja
o meu contorno
é tão breu
sou camaleão
e coruja
disso ninguém
esqueceu...

Eu continuo
profana
uma cigana
sem véu
enquanto rodo
a baiana
te mando
pro beleléu...

Eu continuo
bonita
apesar
dos filhos meus
sou mãe
doente e aflita
com os filhos
longe de Deus...

Nenhum comentário:

Postar um comentário