sexta-feira, 12 de junho de 2009

A retirante (ilustração "Retirante Grávida" de Cândido Portinari)



Ela esperava que o sonho
um dia se consumasse
e se nutria da espera
de alguém que lhe completasse
Mas o sol foi mais ligeiro
e a seca lançou seu laço
viu seu tempo prisioneiro
e o sonho virar bagaço
então partiu num saveiro
pra onde se encontrasse...

Ela escutava os segredos
das ondas que o mar falava
e dividia seus medos
com as nuvens que o céu mandava
Pois o sol foi companheiro
e afastou a tempestade
fez do vento um mensageiro
secou depressa a saudade
depois fugiu, sorrateiro,
nas cores de um fim de tarde...

Ela ancorava seus planos
nas novas terras que via
se desfazia em enganos
e da dor já se esquecia
mas o sol virou braseiro
e secou sua esperança
fez da fome desespero
na barriga que crescia
seu filho nasceu num celeiro
mas ela não era Maria...

Mesmo assim driblou a morte
tirou força da agonia
disse sim à própria sorte
o seu leite era uma sangria
só que agora havia um brilho
que aquecia aquele peito
o sol era agora um filho
e pra tudo ela dava jeito
a vida voltou pro trilho
e seu sonho foi satisfeito...

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