quinta-feira, 25 de junho de 2009

Crônica de uma Noite de São João




Noite de São João, tudo preparado "nos conformes". Família reunida, vizinhança se "achegando". Um bando de gente comprometida com a noite mais "pé na jaca" do ano...
Licor de tudo quanto era espécie, comida muita, da boa. Canjica, milho, bolo de todo tipo, pamonha, pãozinho e broa, laranja, mingau, rapadura, vinagrete e amendoim, um bando de gostosura, numa mesa que não tinha fim...
Na varanda, música tocando, o frio demorando, um ou outro se arriscando num esporádico arrasta pé...
Lá fora, como é de fé, a criançada encantada com os fogos e brincadeiras, se diverte e dá risada, inventa arte e se esbalda, em plena noite de terça-feira...
Na frente da casa, a fogueira resistente que já virou tradição, teimosa que nem mula que empaca, insiste em não acender, não quer nem saber, parece provocação...
Álcool, querosene, cachaça, meia velha, papel, e não há quem faça a "mardita" deixar de pirraça e fazer o fogo arder, que nem paixão...
Alguém lembra da palha de coqueiro, santo remédio caseiro, aí, sim o fogo crepita e a galera se agita, vendo a “madeira mardita” virar “chama bendita”, abençoado clarão!
Alguns mais exaltados, gritam de fora da casa, que mesmo sendo difícil, “o pau agora está em brasa”...
Os mais velhos “contam seus causos”, os mais novos cantam seus casos, de repente algum aplauso e “Viva São João!”
A noite segue faceira, pólvora e fogueira nos dão de presente um clima quase londrino e a gente percebe, de repente, que também tem um fog, só que junino...
De licor em licor, de cerveja em cerveja, a animação toma cor, gente se abraça e se beija, alguns começam a dançar, outros só querem prosear, mas uma coisa é certa: a festa não tem hora pra acabar...
Madrugada avança, a fogueira começa a desmanchar, a chuva ameaça a cair, alguém tropeça
e cai no chão, que nem balão, mas, graças a Deus, acaba com a preocupação quando levanta a sorrir...
Gente vai embora, gente vai dormir, alguns dizem que está na hora, mas ficam se a gente insistir...
De repente, já na oitava saideira, a energia se vai, e na varanda domingueira, a escuridão e o silêncio, tomam conta do ambiente, onde antes só reinava aquela gente festeira...
Uma voz mais animada, saída de uma das mesas, do último dos convidados, pega todo mundo de surpresa quando diz, sem nenhum aviso, embriagado e feliz, que, pra festa ficar mió, agora só é preciso “acender um fiofó”... Do meio silêncio constrangido, pra melhorar a situação, a voz sábia da anfitriã conserta o mal entendido, com sua sabedoria anciã, de experimentada avó: na verdade o que é preciso é acender o fifó!
Noite de São João, tudo consumado "nos conformes". Família em gargalhada, vizinhança se "picando". Um bando de gente preparada para essa noite no próximo ano...

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