domingo, 1 de janeiro de 2012

O Tupi




Hoje acordei lembrando o Tupi, grande saveiro de meu Tio Ricardo!
Durante alguns anos, templo onde a família Maia se reunia todo primeiro dia do ano e, em procissão pela Baía de Todos os Santos, se refazia dos mais diversos réveillons, em passeios inesquecíveis, sempre acompanhando a Galiota “Gratidão do Povo”e reverenciando o Senhor Bom Jesus dos Navegantes...
Minha mãe e seus irmãos se divertiam lembravam casos antigos e para nós, primos, era uma festa cheia de aventura, esporte, diversão, piadas, enfim, uma comunhão muito especial, muito bem celebrada por cada um que adentrava naquela embarcação tão acolhedora...
Na época o maior saveiro da Bahia, o Tupi tinha que ter um capitão à sua altura. “Maré”, o capitão do Saveiro, era uma figura à parte. A gente não entendia quase nada que ele falava, mas respeitava muito aquela figura cuja pele enrugada, muito curtida pelo sol, por si só já impunha muito respeito, além de denunciar décadas e décadas de intimidade profunda com o azul daquelas águas...
Tio Ricardo comandava a festa, entre uma latinha de Skol e outra, atento a tudo e a todos, sem nunca perder a oportunidade de curtir e aprender com “Maré” sobre os segredos dos ventos e correntes dos mares da Bahia...
Para nós, quase adolescentes, o Tupi era uma nave gigantesca nos transportando para lugares inexplorados. Cada ilha, cada praia, era saboreada, vasculhada e conhecida, entre um baba e alguns petiscos, logo se transformando em aventura a ser contada nas escolas, na volta das férias!
Normalmente o sol fazia sua parte e enchia de cor e alegria aqueles dias! Dias que inauguravam anos onde não haviam muitas preocupações e responsabilidades e a “primarada” realmente se divertia!
E, de repente, trinta anos depois, estas imagens vêm tão claras que só posso supor que andei sonhando com algum passeio de Tupi!
Me sinto novamente aquele menino, ainda atordoado com a partida precoce do pai, e tenho a
nítida impressão de poder sentir bem viva a sensação da pele quente de sol sendo abraçada pelas águas para as quais mergulhávamos, livres e felizes, toda vez que o Tupi atracava e Maré “liberava” nossa descida!
Se fechar os olhos, sei que posso sentir o cheiro do óleo misturando-se ao dos sargaços!
Posso ver nossas mães nos oferecendo as iguarias que levavam e que nutriam de energia nossa ansiedade em viver cada segundo de cada passeio!
Posso ver o sorriso silencioso e satisfeito do Velho “Xanduba”, a doçura de sua “Durce e ouvir as recomendações preocupadas de Tia Regina.
Posso ouvir as risadas, as músicas que cantávamos, geralmente relacionadas ao Bahia, trazidas por Leco e Dado das suas incursões à Fonte Nova...
Posso lembrar da ousada coragem desbravadora de Marquinhos e Carlinhos, sempre descobrindo aqui e ali mistérios e aventuras pra gente perseguir...
Posso ver Odi e Lico contando de suas aventuras em Mar Grande, Luís Carlos falando de sua coleção de bichos e dos casos de Cabuçú e Shoes maravilhado entre os primos mais velhos...
Lembro de Lú, kite, Deca e Nana emprestando ao nosso passeio a graça e a beleza, geralmente ocupadas com a tarefa de bronzear suas formas femininas.
Vic , mais velho, já freqüentava a ala dos tios, se sentindo o próprio com o “novo status” de homem feito...
Quanto a mim, posso me ver, fitando o horizonte, na esperança de ver surgir, entre as ondas, algum golfinho ou tubarão, fascinado pela beleza natural da Bahia, lembrando das histórias de meu pai e Tio Luiz e pensando em como meu pai gostaria de estar ali e de quanta falta sua presença me fazia...
Era justamente aí, quando meus olhos pareciam estar prontos para dar sua contribuição de água salgada ao oceano, que sempre havia uma piada, um chamado, uma brincadeira e que, na imensidão daquele mundo azul, me faziam perceber que não estava só! Minha família estava ali e se fazia sentir!
Os primos mais novos não viveram muito aquela época, mas já estavam todos ali, naquela festa de congraçamento e muita luz!
Uma maré de lembranças, em ondas de recordação , inauguram este janeiro de 2012!
Grandes lembranças! Grandes momentos! Guardados no fundo do coração!
A todos vocês que compartilharam aqueles momentos comigo, minha gratidão e bem querer!
E meu desejo que 2012 seja tão gostoso e intenso como cada um daqueles inesquecíveis passeios no Tupi!

5 comentários:

  1. Tcholas, ontem voltando de uma obra no litoral norte vinha conversando com os trabalhadores sobre essas aventuras e como fomos privilegiados por ter vivido exatamente tudo isso que você do jeito poético e iluminado contou.
    Finados Maré e Tupy, Pescarias em noites inesquecíveis com muquecas apimentadas se tornaram eternos em nossas vidas.
    Feliz 2012..Dado

    ResponderExcluir
  2. Marcio,amei!vc não existe.Ficamos também ontem com muitas lembranças boas daquele tempo.Foi muito legal receber esta mensagem sua que nos fez recordar de momentos únicos na família.É uma alegria enorme sentir o que proporcionamos a você e certamente aos outros sobrinhos.
    Eu e seu tio nos emocionamos muito, sentimos uma saudade imensa com seu jeito carinhoso e verdadeiro que nos lembra muito de seu pai,aquela pessoa maravilhosa que só não digo única,porque você existe.E desde aquela época, sentimos você um pouco nosso filho também.Amamos você!!!
    FELIZ 2012 PARA TODA FAMÍLIA.
    BEIJOS,tia Grá e tio Ricardo

    ResponderExcluir
  3. Peeeeeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnnnnnnnnn!!!!!
    Grá e Ricardo, grandes momentos!!!!
    Inesquecíveis!
    Obrigado por tudo e pelo amor de sempre!
    É recíproco, podem acreditar!

    ResponderExcluir
  4. Eu nem vivi essa época, mas chorei lendo esse texto.
    Você é o cara, viu?
    Sem palavras!
    beijão

    ResponderExcluir